Com China e Irã na mira, FBI intensifica combate a agentes estrangeiros dentro dos EUA

Indivíduos a serviço de outros governos realizam operações de repressão, por vezes violentas, no território norte-americano

Os Estados Unidos foram palco, nos últimos anos, de uma série de operações secretas conduzidas por agentes supostamente a serviço de nações estrangeiros. As ações são cada vez mais sofisticadas e até violentas, um problema que levou o FBI, a polícia federal norte-americano, a estabelecer uma grande operação de repressão, com dezenas de suspeitos levados á Justiça. As informações são da agência Associated Press (AP).

China e Irã são as nações que mais preocupam o Departamento de Justiça dos EUA, mas não as únicas. A Índia, um país aliado, recentemente protagonizou um caso, com uma equipe de assassinos contratados para eliminar um separatista sikh que é uma pedra no sapato do primeiro-ministro indiano Narendra Modi. O FBI agiu a tempo de salvar a vida de Gurpatwant Singh Pannun, que vive em Nova York.

A perseguição chinesa no exterior quase sempre conta com o suporte de estabelecimentos criados por Beijing originalmente como centros de apoio a cidadãos da China no exterior. Porém, a ONG Safeguard Defenders passou a denunciar o uso desses locais como verdadeiras estações de polícia, voltadas a ajudar na repatriação de indivíduos perseguidos pelo Estado.

Agente do FBI, imagem meramente ilustrativa de novembro de 2022 (Foto: facebook.com/FBIJobs)

Beijing também tem o hábito de recrutar chineses no exterior para perseguir compatriotas que exigem democracia no país ou em Hong Kong ou membros de minorias étnicas como a dos uigures, vítimas de uma violenta perseguição também em território chinês.

A campanha de repatriação conduzida com o apoio dessas delegacias por vezes ignora as leis e a soberania das nações anfitriãs, com as autoridades chinesas usando métodos escusos, que vão contra as normas de direitos humanos, para fazer valer sua própria legislação mesmo no exterior. Um recente relatório da ONG indica que episódios assim foram registrados em 56 países e dois territórios chineses, estes Macau e Hong Kong.

Somente no ano passado, o Departamento de Justiça diz que abriu ações criminais contra mais de 30 agentes de polícia da China acusados de usar a internet para atacar dissidentes, inclusive criando conta falsas para fortalecer o assédio.

O Irã, por sua vez, é acusado de recrutar estrangeiros para fazer o serviço sujo. Cidadãos do Leste Europeu que integram uma quadrilha nos EUA teriam sido escolhidos para matar um jornalista e ativista iraniano que vive em Nova York e contesta as violações dos direitos humanos por Teerã.

Agentes do FBI ouvidos pela AP dizem que a atuação dessas nações é cada vez mais sofisticada, com os governos dispostos a cruzar “sérias linhas vermelhas” para atingir seus objetivos. Derrubar dissidentes nos EUA e em outros países tornou-se uma prioridade para regimes autoritários, que investem elevadas quantias em dinheiro nas operações do gênero.

Matthew Olsen, procurador-geral adjunto e encarregado da segurança nacional no Departamento de Justiça, diz que a ação contra esses agentes estrangeiros é “uma enorme prioridade” em Washington, que tem registrado um “aumento alarmante” de episódios assim.

Mais que punir os responsáveis, Olsen afirma que o objetivo do governo dos EUA é enviar uma mensagem aos responsáveis, deixando claro que essas operações são “inaceitáveis ​​do ponto de vista da soberania dos Estados Unidos e da defesa dos valores americanos, valores em torno da liberdade de expressão e de associação livre.”

Segundo o procurador-adjunto, o problema tende a crescer conforme aumenta a bipolarização global. “A repressão transnacional é uma manifestação do conflito mais amplo entre regimes autoritários e países democráticos”, afirmou. “Tem sido um tema consistente sobre a forma como o mundo está mudando do ponto de vista geopolítico ao longo da última década.”

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