Competições entre hackers patrocinadas por Beijing colocam Washington em alerta

Autoridades norte-americanas alertam que o avanço chinês em cibersegurança pode colocar os EUA em desvantagem estratégica

As competições entre hackers na China, impulsionadas pelo governo e por um crescente interesse público, têm despertado preocupações nos Estados Unidos. Para autoridades americanas, o avanço chinês em cibersegurança pode colocar o Ocidente em desvantagem estratégica, além de representar um risco para a segurança nacional. Desde que o presidente Xi Jinping propôs transformar o país asiático em uma potência cibernética há uma década, estabeleceu uma base de inovação em cibersegurança capaz de formar milhares de especialistas anualmente. As informações são da revista Newsweek.

Esses concursos, conhecidos como captura da bandeira (CTF, na sigla em inglês), consistem em desafios de segurança digital nos quais equipes competem para resolver problemas de invasão e defesa de sistemas. Mais de 120 edições do evento foram realizadas no país desde 2004.

“A China construiu o ecossistema mais abrangente do mundo para competições de captura da bandeira, a forma predominante de competições de hackers, que vão desde jogos de equipe contra equipe até desafios de conhecimento no estilo Jeopardy“, disse o think tank Atlantic Council em recente relatório.

Hackers: China está em vantagem frente ao Ocidente (Foto: Pxfuel)

Eventos apoiados por órgãos chineses, entre eles o Exército de Libertação Popular (ELP), são frequentemente utilizados para recrutar talentos para as agências de segurança do governo. A Copa Wangding, organizada pelo Ministério da Segurança Pública, é um dos maiores exemplos, atraindo mais de 35 mil participantes e servindo como um canal direto para identificar e treinar novos profissionais de segurança.

A vice-chefe de políticas da Agência de Segurança Cibernética e Infraestrutura dos EUA (CISA), Jessica Ruzic, observou que o modelo autoritário da China permite uma continuidade estratégica difícil de replicar em democracias, onde as mudanças de governo trazem novas prioridades.

“A mentalidade da China é a de que eles estão construindo algo estrutural, e a mentalidade dos EUA é a de que estamos tentando resolver um problema que está bem na nossa frente”, disse Ruzic. “O governo dos EUA como um todo não está preparado para o pensamento estratégico de longo prazo. Não é assim que os limites de mandato funcionam, certo?”

Nos Estados Unidos, o foco em segurança cibernética ainda se apoia em parcerias com o setor privado e governos aliados, embora a abordagem colaborativa esteja em reformulação. O governo americano recentemente elaborou uma estratégia para fortalecer o mercado de trabalho cibernético, que inclui a promoção de aprendizado prático e aberto, inspirado nas competições chinesas.

Especialistas, como o pesquisador Eugenio Benincasa, destacam que os concursos chineses priorizam habilidades ofensivas, enquanto os americanos tendem a focar em defesa. Essa diferença, segundo ele, reflete o esforço chinês em desenvolver capacidades ofensivas inovadoras, incluindo startups de pesquisa de vulnerabilidades e cyber ranges, laboratórios para simulação de ataques.

“Fiquei surpreso não apenas com o tamanho do ecossistema CTF, mas, mais importante, com sua integração aos currículos acadêmicos e ao setor profissional, com um forte foco em competições de ataque-defesa CTF”, disse Benincasa.

Autoridades americanas alertam que o programa de hacking chinês é o maior do mundo e que, em um cenário de confronto, esses especialistas poderiam ser usados para comprometer infraestruturas críticas. Enquanto Beijing nega essas acusações, a realidade das competições chinesas deixa claro que o país continuará a investir na formação de profissionais cibernéticos, aumentando ainda mais a pressão sobre os Estados Unidos.

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