Crises e violência ameaçam deixar mais da metade dos haitianos com fome

País sofre com inflação de 26%, efeitos da Covid-19, desastres naturais e alta constante de preços devido à guerra na Ucrânia

O PMA (Programa Mundial de Alimentos) alertou na terça-feira (12) que a insegurança alimentar deve piorar no Haiti. Quase metade da população já está nessa situação devido à combinação da alta da inflação, subida de custos de alimentos e de combustíveis, além da degradação da segurança.

Em nota, a agência da ONU destacou uma piora drástica na questão da segurança pública na capital Porto Príncipe e arredores desde maio. A situação cortou as cadeias de suprimentos, o acesso a serviços básicos, como mercados, escolas e hospitais, e a subsistência dos haitianos em todo o território.

Entre os efeitos da violência estão a grave crise de proteção e a dificuldade de acesso e de compra de alimentos pela população.

Com o aumento global de preços devido ao conflito na Ucrânia, a inflação no Haiti chegou a 26%. O Haiti importa 70% dos cereais que consome e está propenso a choques nos mercados globais de alimentos e combustíveis.

Outra preocupação é com a previsão de uma temporada de furacões neste ano, mais ativa do que o normal no Atlântico.

Distribuição de alimentos em Cité Soleil, Haiti, em 2010 (Foto: Marco Dormino/UN Photo)
Ajuda bloqueada

Mesmo com o bloqueio das vias por grupos criminosos, o PMA apoia a ação humanitária com transporte aéreo e marítimo. O diretor da agência no Haiti, Jean-Martin Bauer, disse que grande parte da população foi isolada da capital econômica do país.

A essa situação se somam os efeitos da pandemia, os desastres naturais recentes, a alta inflação e os custos crescentes da comida, um efeito cascata do conflito na Ucrânia.

Bauer disse que a fome vem aumentando de forma significativa na capital e no sul do país, com Porto Príncipe sendo a região mais atingida.

Já a situação de segurança altamente frágil coloca em maior risco as operações humanitárias de que ​​dependem muitos haitianos. Há um ano, o bloqueio total da estrada em direção ao sul de Porto Príncipe isolou 3,8 milhões de pessoas. A saída para o norte da capital também foi recentemente afetada.

A alternativa do PMA é usar rotas marítimas para enviar ajuda para transportar trabalhadores da linha de frente e carga ligeira para tais regiões.

A resposta ao terremoto em agosto do ano passado aumentou as operações aéreas em meio à “situação de segurança cada vez mais volátil”, disse Bauer, segundo quem única opção segura para os humanitários se deslocarem é por via aérea.

Sem financiamento adequado, o serviço aéreo da ONU (Organização das Nações Unidas) enfrenta um fechamento iminente até o final de julho de 2022.  Essa hipótese coloca em risco a a assistência da agência e as operações humanitárias em todo o país.

O PMA planeja prestar ajuda humanitária e de desenvolvimento a 1,7 milhão de pessoas ainda neste ano. Porém, enfrenta um déficit de financiamento de US$ 39 milhões para a resposta, que inclui aumentar a resiliência e reforçar a proteção social e dos sistemas alimentares no Haiti.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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