Após quase oito anos de esforços para desclassificação, um memorando elaborado pela Direção Nacional de Inteligência (ODNI) dos EUA veio à tona, revelando detalhes sobre supostos assassinatos políticos atribuídos ao Kremlin. O documento, parcialmente liberado para consulta, indica que o presidente da Rússia, Vladimir Putin “provavelmente” autorizou operações para eliminar opositores de destaque, tanto dentro quanto fora do país, desde que assumiu o poder em 2000. As informações são da rede Bloomberg.
O relatório foi produzido em 2016 a pedido do Congresso dos EUA, que buscava entender o uso de assassinatos como ferramenta de poder estatal pela Rússia. Apesar de sua conclusão, ele permaneceu classificado até 2023, quando esforços por meio de mecanismos como a Revisão de Desclassificação Obrigatória (MDR, na sigla em inglês) permitiram que parte de seu conteúdo fosse divulgada. A versão pública ainda contém trechos censurados para proteger informações sigilosas.
Entre os casos detalhados no documento está o envenenamento do ex-espião Alexander Litvinenko, em Londres, em 2006, com polônio-210, uma substância radioativa. O memorando aponta que “Moscou quase certamente ordenou o assassinato“, citando evidências significativas. Outro caso de grande repercussão foi a morte de Zelimkhan Yandarbiyev, líder checheno morto em 2004 no Catar por agentes da inteligência militar russa.
O documento também sugere o envolvimento do Kremlin em outros assassinatos, como o de Alexander Perepilichny, empresário russo morto no Reino Unido em 2012. Ele havia colaborado com investigações sobre fraudes fiscais ligadas ao Kremlin e morreu em circunstâncias suspeitas pouco antes de depor. Apesar das conclusões oficiais de que a morte foi por causas naturais, o memorando sugere envenenamento com toxinas biológicas.
A análise reforça que a Rússia tem capacidade técnica para rastrear e eliminar dissidentes, muitas vezes utilizando agentes químicos e biológicos. “O desenvolvimento de substâncias com baixo risco de rastreamento pode incentivar o Kremlin a continuar usando assassinatos como ferramenta política”, diz o texto.
Embora o relatório seja categórico em algumas situações, admite “baixa a moderada confiança” em outros casos devido à dificuldade de obter provas diretas e verificáveis. Isso reflete os desafios de investigar ações secretas conduzidas por serviços de inteligência altamente sofisticados.
Outro ponto abordado é a atuação contra separatistas ucranianos. O relatório menciona o caso de Oleksandr Bednov, líder de uma milícia separatista na Ucrânia, morto em 2015 como parte de uma estratégia de neutralizar figuras vistas como insubordinadas.
Apesar de datado, o documento ganha relevância diante das suspeitas de que essas operações continuaram após a invasão da Ucrânia, em 2022. Em reportagem recente, o programa 60 Minutes, da rede norte-americana CBD News. afirmou haver indícios de que Putin manteve a prática de eliminar opositores em meio ao conflito. O Kremlin, até o momento, não comentou as revelações do documento.