Dois renomados cientistas do principal laboratório de doenças infecciosas do Canadá foram demitidos após uma investigação revelar que eles falharam na proteção de informações confidenciais e colaboraram com o governo da China sem a devida transparência. A história foi revelada na quarta-feira (28) pelo jornal The Globe and Mail, com base em um relatório de mais de 600 páginas do governo canadense.
A pesquisadora Xiangguo Qiu e o marido dela, Keding Cheng, tiveram suas autorizações de segurança revogadas em 2019 no Laboratório Nacional de Microbiologia de Winnipeg. Ambos foram considerados uma ameaça à segurança econômica canadense.
Os registros também revelam que o Serviço Canadense de Inteligência de Segurança (CSIS, da sigla em inglês), principal agência nacional de espionagem, avaliou que Qiu mentiu repetidas vezes sobre a extensão de seu trabalho com instituições do governo chinês. Ela ainda se recusou a admitir envolvimento em vários programas chineses, mesmo quando evidências lhe foram apresentadas.
O relatório revela a existência de “relações estreitas e secretas com várias entidades da República Popular da China, uma conhecida ameaça à segurança do Canadá”, além da “total falta de transparência sobre sua ligação com essas instituições e sua tomada de decisões imprudente, que poderiam impactar a segurança nacional e os interesses do Canadá.”
Os partidos de oposição esperavam que os documentos esclarecessem por que Qiu e Cheng foram retirados do Laboratório Nacional de Microbiologia de Winnipeg em julho de 2019 e subsequentemente demitidos em janeiro de 2021. Os dois não comentaram publicamente e estão supostamente na China.
A divulgação dos documentos, antes confidenciais, foi autorizada por três ex-juízes, mas os documentos seguem parcialmente censurados. Com a história exposta, a Agência de Saúde Pública do Canadá emitiu um comunicado no qual evita comentar o caso. Em vez disso, destaca as mudanças de segurança que foram implementadas desde 2019.
Segundo a agência, a investigação sobre os cientistas resultou em “melhorias significativas” nas medidas de segurança, incluindo treinamento regular sobre segurança e responsabilidades dos funcionários.
Microrganismos altamente perigosos
De acordo com o CSIS, Qiu usou o laboratório de nível 4 no Canadá como base para ajudar a China a aprimorar sua capacidade de lidar com patógenos altamente perigosos, alcançando resultados significativos, segundo a rede CBC.
Além disso, ela é acusada de fornecer a Beijing a sequência genética do Ebola, facilitando o acesso da China a informações cruciais. A agência de espionagem também acusou a cientista de estar associada a vários programas de talentos financiados por entidades chinesas.
O jornal Star Advertiser destacou as atividades de Cheng, falando que ele permitiu que visitantes restritos acessassem os laboratórios sem supervisão e, em pelo menos duas ocasiões, não impediu a remoção não autorizada de materiais de laboratório.