EUA abrem ação judicial contra hackers russos acusados de atuar a serviço do Kremlin

Grupo Calisto, do qual os réus fazem parte, teria coletado informações junto a políticos e outras figuras para então manipular a opinião pública

O Departamento de Justiça norte-americano formalizou na última quinta-feira (7) acusações contra dois hackers russos suspeitos de realizar ataques digitais contra países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), entre eles os EUA e o Reino Unido. A dupla teria agido a serviço do governo da Rússia.

Os réus, identificados como Ruslan Aleksandrovich Peretyatko e Andrey Stanislavovich Korinets, são procurados internacionalmente e acredita-se que estejam atualmente em território russo, o que, se confirmado, inviabilizaria a prisão de ambos mesmo em caso de uma eventual condenação.

De acordo com o órgão governamental, ambos são membros do grupo de hackers Callisto, também conhecido como Cold River, Star Blizzard, TA446 ou Seaborgium. Este, por sua vez, serve à agência de inteligência russa FSB (Serviço de Segurança Federal, da sigla em inglês), herdeira da antiga KGB.

“A acusação alega que o chamado ‘Grupo Callisto’ invadiu computadores nos Estados Unidos e países aliados e roubou informações usadas em operações de influência maligna estrangeira projetadas para influenciar as eleições de 2019 no Reino Unido”, diz comunicado do Departamento de Justiça.

Hackers russos têm empreendido seguidos ciberataques contra nações ocidentais (Foto: TheDigitalArtist/Pixabay)

O anúncio feito por Washington surge pouco depois de o Reino Unido revelar os ataques hackers citados na acusação. Londres afirmou, também na quinta, que a campanha cibernética maliciosa contra figuras públicas britânicas ocorreu ao menos desde 2015, tendo como alvos políticos, funcionários públicos, membros de grupos de reflexão, jornalistas e acadêmicos.

Os russos criavam contas de e-mail falsas se passando por pessoas da confiança dos alvos, com quem mantinham contato para extrair informações relevantes. O objetivo final era divulgar os dados coletados a fim de influenciar a opinião pública, interferindo em eleições e outros assuntos de interesse do Kremlin.

“O governo russo continua a visar as redes críticas dos Estados Unidos e dos nossos parceiros, conforme sublinhado pela acusação hoje revelada”, disse o procurador-geral adjunto dos EUA, Matthew G. Olsen, da Divisão de Segurança Nacional do Departamento de Justiça.

Antes do anúncio de que o processo foi instaurado, Londres prometeu que aplicaria sanções aos envolvidos. Adiantou, ainda, que Washington também tomaria uma atitude, o que de fato ocorreu.

“Através desta atividade de influência maligna dirigida aos processos democráticos do Reino Unido, a Rússia demonstra mais uma vez o seu compromisso em utilizar campanhas armadas de espionagem cibernética contra tais redes de formas inaceitáveis”, acrescentou Olsen.

Segundo Ismail J. Ramsey, procurador dos EUA para o estado da Califórnia, o processo criminal é parte de uma “resposta internacional coordenada” contra grupos de espionagem cibernética, sendo a Rússia a nação que mais patrocina este tipo de atividade ilícita.

Não apenas cidadãos britânicos foram atingidos, mas também norte-americanos. “A conspiração teve como alvo atuais e ex-funcionários da Comunidade de Inteligência dos EUA, Departamento de Defesa, Departamento de Estado, contratados do setor de Defesa e instalações do Departamento de Energia, entre pelo menos outubro de 2016 e outubro de 2022”, diz o texto.

Cada um dos réus é acusado de conspiração para praticar fraude eletrônica contra os EUA, com previsão de pena máxima de cinco anos de prisão para Peretyatko e até dez anos para Korinets.

Velhos conhecidos do Ocidente

A Microsoft afirmou em agosto do ano passado que monitora o grupo Callisto desde 2017 e também o acusou de servir ao Kremlin. Segundo a empresa de tecnologia, trata-se de um “ator de ameaças originário da Rússia, com objetivos e vitimologia que se alinham estreitamente com os interesses do Estado russo.”

Em 2022, a Microsoft declarou ainda que a organização realizou uma campanha maliciosa contra “pessoas de interesse” e contra mais de 30 órgãos do setor de Defesa de países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

O objetivo daquela campanha era roubar informações sensíveis de Defesa e Inteligência. Para isso, foram realizados ataques do tipo phishing, que consiste no envio de e-mails falsos que, se acessados, concedem aos hackers acesso ao sistema da vítima.

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