EUA acusam empresas de infiltrar norte-coreanos no país e oferecem recompensa milionária

Envio de trabalhadores tem como objetivo extorquir dinheiro para financiar os programas de armas de Pyongyang

Os Estados Unidos anunciaram a oferta de até US$ 5 milhões em recompensas por informações que levem ao desmantelamento de um esquema supostamente coordenado por duas empresas de tecnologia da informação (TI) vinculadas à Coreia do Norte. As informações são da rede Radio Free Asia.

Segundo o Departamento de Estado, as companhias Yanbian Silverstar Network Technology Co., Ltd., na China, e Volasys Silverstar, na Rússia, são acusadas de facilitar a infiltração de trabalhadores norte-coreanos em empresas americanas para financiar o programa de armas de destruição em massa do país asiático.

Entre 2017 e 2023, cerca de 130 trabalhadores norte-coreanos conseguiram empregos em organizações dos EUA e arrecadaram pelo menos US$ 88 milhões em recursos considerados ilícitos. Os valores, de acordo com o governo norte-americano, foram desviados para sustentar os programas nuclear e de mísseis de Pyongyang.

Prédio do Departamento de Estado dos EUA (Foto: WikiCommons)

As investigações apontam que as empresas envolvidas enviaram trabalhadores norte-coreanos para regiões como Yanji, na província chinesa de Jilin, e Vladivostok, na Rússia. Esses profissionais obtinham empregos em TI sob falsas identidades e enganavam empregadores com sites que simulavam ligações a empresas respeitáveis. O Departamento de Estado também revelou que os trabalhadores utilizavam identidades roubadas de cidadãos americanos e, muitas vezes, colaboravam com indivíduos nos EUA para adquirir laptops usados em extorsões contra empregadores.

Em sua investigação, o governo dos EUA identificou 14 indivíduos ligados às atividades. Entre eles, estão Jong Song Hwa, CEO das duas empresas, Kim Ryu Song, presidente da Yanbian Silverstar, e Ri Kyong Sik, presidente da Volasys Silverstar. Segundo as autoridades, essas pessoas têm papel central na operação de lavagem de dinheiro que alimenta a economia norte-coreana.

Sanções e recompensas

A oferta de recompensas integra o programa “Recompensas pela Justiça” (Rewards for Justice), criado para promover a segurança nacional americana. Segunda a iniciativa do governo norte-americano, “a maioria desses trabalhadores de TI são subordinados e trabalham em nome de entidades envolvidas nos programas nucleares e de mísseis balísticos da RPDC, proibidos pela ONU” (Organização das Nações Unidas).

O programa também busca informações sobre terrorismo, ciberataques e outras atividades criminosas que ameacem os EUA. Além disso, a Coreia do Norte permanece na lista de Estados patrocinadores do terrorismo, ao lado de países como Cuba, Irã e Síria.

A designação traz fortes implicações, como restrições financeiras e proibição de exportação de armas. A Coreia do Norte foi inicialmente incluída nessa lista em 1988, após um atentado a um voo da Korean Air em 1987, mas teve a designação retirada em 2008. No entanto, voltou à lista em 2017 devido ao apoio a atos de terrorismo internacional.

Fator Trump

Enquanto o Departamento de Estado anunciava novas diretrizes, Donald Trump, presidente eleito dos EUA, voltou a enfatizar sua conexão pessoal com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Em entrevista à revista Time, onde foi eleito a Personalidade do Ano de 2024, Trump declarou: “Eu conheço Kim Jong-un, tenho uma boa relação com ele… Se pensar bem, sou o único com quem ele já negociou.”

Durante seu primeiro mandato, Trump protagonizou encontros históricos com Kim, incluindo ser o primeiro presidente americano a pisar em solo norte-coreano. Apesar das três reuniões e da tentativa de persuadir Pyongyang a abandonar seus programas nucleares, os esforços não resultaram em progressos concretos na desnuclearização, tampouco em avanços duradouros nas relações entre os países.

A postura de Pyongyang também reflete o fortalecimento de laços militares com Moscou, o que pode complicar ainda mais qualquer iniciativa diplomática de Washington. O governo norte-coreano não se pronunciou oficialmente sobre as novas acusações até o momento.

Tags: