Ex-funcionário de consulado dos EUA na Rússia é formalmente acusado de espionagem

Robert Shonov teria coletado informações sobre temas sensíveis durante a guerra da Ucrânia e as repassado a Washington

A Rússia anunciou nesta segunda-feira (28) que Robert Shonov, um ex-funcionário do consulado norte-americano em Vladivostok, foi formalmente acusado de espionagem. Preso desde maio deste ano, ele teria coletado e repassado aos EUA informações sobre os desdobramentos da guerra da Ucrânia.

O FSB (Serviço Federal de Segurança) russo diz que Shonov coletou principalmente dados referentes ao “progresso da operação militar especial (eufemismo usado por Moscou para se referir à guerra), processos de mobilização nas regiões da Rússia, momentos problemáticos e avaliação de como esses problemas influenciariam a população às vésperas da eleição presidencial na Rússia em 2024”, segundo a agência estatal Sputnik

“Shonov vinha realizando, por recompensas materiais, tarefas dos funcionários do departamento político da embaixada dos EUA em Moscou, Jeffrey Sillin e David Bernstein”, disse o FSB em comunicado.

Robert Shonov, preso pelo FSB desde maio sob a acusação de espionagem (Foto: FSB/divulgação)

Segundo a agência Associated Press (AP), o homem foi acusado com base em uma nova lei da Rússia, que classifica como crime a “cooperação numa base confidencial com um Estado estrangeiro, organização internacional ou estrangeira para ajudar as suas atividades claramente dirigidas contra a segurança da Rússia.”

De acordo com críticos do regime de Vladimir Putin, o texto legal é propositalmente vago, de forma a permitir que seja usado para punir qualquer cidadão russo que tenha ligação com entidades ou Estados estrangeiros. A pena máxima prevista é de prisão por até oito anos.

Washington admitiu, conforme informou a rede Voice of America (VOA), que o indivíduo trabalhou para o consulado por 25 anos, mas refuta as acusações. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, disse que as alegações russas são “totalmente sem mérito”, pois Shonov apenas coletava informações disponíveis na imprensa russa e abertas ao público em geral.

“A única função do Sr. Shonov no momento de sua prisão era compilar resumos de itens de imprensa de fontes da mídia russa publicamente disponíveis”, disse Miller. “O fato de ele ter sido alvo do estatuto de ‘cooperação confidencial’ destaca o uso flagrante pela Federação Russa de leis cada vez mais repressivas contra seus próprios cidadãos.”

A agência de notícias russa Interfax reproduziu declarações atribuídas a Shonov, colhidas pelas autoridades no depoimento. Ele teria confirmado os nomes de seus interlocutores na embaixada dos EUA em Moscou, para onde costumava enviar as informações que obtinha.

“O primeiro secretário da embaixada dos EUA, David Bernstein, me encarregou de encontrar indivíduos entre jornalistas, empresários e políticos, que fossem leais aos Estados Unidos e que eles poderiam usar para coletar informações”, disse Shonov em um suposta confissão de culpa.

Ainda no depoimento, ele teria citado os temas mais pulsantes da Rússia durante a guerra como principais questões de interesse de Washington.

“Eles (diplomatas) manifestaram interesse em recolher informações sobre os acontecimentos em curso, como a operação militar especial, a mobilização, as eleições presidenciais em 2024, a anexação de novos territórios e os protestos”, afirmou.

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