Uma falha de segurança incomum em smartphones de autoridades públicas, jornalistas e empresários nos EUA revelou uma tentativa de espionagem altamente sofisticada. A descoberta foi feita por investigadores da empresa iVerify, que suspeitam do envolvimento de hackers com histórico de atuação alinhada a interesses do governo chinês. As informações são da agência Associated Press (AP).
Segundo a investigação, o ataque não exigia nenhuma ação do usuário — como abrir links ou baixar arquivos. A falha permitia que os invasores acessassem mensagens e chamadas em tempo real, silenciosamente. O padrão foi detectado após uma sequência de travamentos anormais em aparelhos usados por pessoas ligadas a temas estratégicos para Beijing.
As suspeitas ganharam força em dezembro de 2024, quando autoridades americanas alertaram para uma campanha de espionagem cibernética voltada a comunicações sensíveis. Durante a eleição presidencial, hackers também teriam tentado invadir inclusive os celulares de Donald Trump e de seu vice, JD Vance.

Beijing negou qualquer envolvimento e devolveu a acusação. “Os EUA há muito tempo usam todos os tipos de métodos desprezíveis para roubar os segredos de outros países”, disse Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
O caso, porém, expõe uma brecha de segurança que aparentemente vem sendo menosprezada. “O mundo está em uma crise de segurança móvel neste momento e ninguém está prestando atenção aos celulares”, alertou Rocky Cole, diretor de operações da iVerify e ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos EUA.
Com o avanço das tecnologias móveis, os celulares se tornaram alvos valiosos para espionagem. Mais do que dispositivos pessoais, eles concentram senhas, documentos confidenciais e conversas de bastidores, muitas vezes acessadas por autoridades de alto escalão.
A exposição desses dados, no entanto, nem sempre ocorre apenas por falhas técnicas — o comportamento dos próprios usuários também pode abrir brechas. Durante o atual governo Trump, por exemplo, o conselheiro de segurança Mike Waltz incluiu por engano um jornalista em um grupo de mensagens sobre planos militares. No mesmo período, o então secretário de Defesa, Pete Hegseth, utilizava o aplicativo Signal em um computador pessoal conectado à internet, fora dos sistemas protegidos do Pentágono.
“Eles todos têm acesso a plataformas de comunicação seguras”, afirmou Michael Williams, especialista em segurança nacional da Universidade de Syracuse. “Simplesmente não podemos sair compartilhando informações sem critério.”