Jornalista recebeu por engano mensagens secretas sobre ataques dos EUA contra os Houthis

Profissional foi inserido em aplicativo que inclui secretário de Defesa e vice-presidente, revelando detalhes de operação militar

Uma grave violação de segurança envolvendo o alto escalão do governo dos EUA chocou Washington, após a revelação de que planos de ataques contra os Houthis, no Iêmen, foram discutidos em um grupo de mensagens que incluía um jornalista. Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista The Atlantic, foi colocado por engano no bate-papo do aplicativo Signal e recebeu previamente um alerta sobre a operação militar debatida por membros do governo. Aparentemente, entre eles estão o secretário de Defesa Pete Hegseth e o vice-presidente JD Vance, segundo o site The Defense Post.

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou os ataques no dia 15 de março, mas Goldberg revelou que recebeu informações detalhadas sobre os alvos, armas que seriam usadas e a sequência dos ataques. Segundo o jornalista, uma pessoa identificada no bate-papo como Hegseth enviou uma mensagem detalhada, afirmando que as primeiras detonações no Iêmen ocorreriam duas horas depois, às 13h45, horário de Washington – o que de fato se confirmou no local.

Trump e seu vice, JD Vance, em setembro de 2024 (Foto: WikiCommons)

A Casa Branca reconheceu a autenticidade da troca de mensagens, classificando o incidente como um “erro não intencional” em que um número de telefone foi adicionado indevidamente ao grupo. “O presidente continua a ter total confiança em sua equipe de segurança nacional”, afirmou Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, enquanto Trump declarou desconhecer o incidente.

A revelação provocou fortes reações no meio político americano. Democratas, como a senadora Elizabeth Warren, disseram que o uso de aplicativos comerciais para discutir operações militares pode ser ilegal. Já o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, descreveu o caso como “uma das mais impressionantes violações de inteligência militar que já li” e pediu uma investigação completa.

Republicanos, por outro lado, minimizaram o incidente. O presidente da Câmara, Mike Johnson, declarou que os envolvidos não deveriam ser punidos, classificando o ocorrido como um “erro” que “não vai se repetir”. No entanto, ex-funcionários de segurança nacional demonstraram espanto e indignação. “Alguns desses assuntos… eles só deveriam ser discutidos cara a cara”, comentou o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton.

O jornalista conta que foi adicionado ao grupo dois dias antes da operação militar. Assim, o vazamento poderia ter sido altamente prejudicial caso Goldberg detalhasse os planos com antecedência, algo que optou por não fazer.

Críticas aos aliados europeus

No mesmo debate, um dos participantes, identificado apenas como Vance, manifestou descontentamento com a operação, contestando a necessidade de ajudar os países europeus. “Se você acha que devemos fazer isso, vamos lá. Eu simplesmente odeio socorrer a Europa de novo”, disse ele. Hegseth respondeu concordando: “Eu compartilho totalmente sua aversão ao parasitismo europeu. É PATÉTICO.”

De acordo com o site The Hill, a insatisfação da dupla foi justificada com números, alegando que os europeus sofrem bem mais que os norte-americanos com os problemas de navegação decorrentes dos ataques dos Houthis. Eles argumentaram que enquanto os EUA usam o Canal de Suez para apenas 3% de suas transações comerciais, a Europa tem 40% do comércio passando por lá.

As rotas visadas pelos Houthis recebem cerca de 15% do comércio internacional, e os ataques forçaram muitas companhias a mudarem o trajeto de suas embarcações, encarecendo o frete mundial.

Os Houthis começaram a atacar navios comerciais em novembro de 2023, argumentando que as embarcações visadas servem a Israel e declarando apoio aos palestinos de Gaza durante no conflito. Com o tempo, porém, mesmo navios sem relação com Israel passaram a ser atacados.

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