EUA e França unem esforços para efetuar prisões de integrantes do Estado Islâmico

Autoridades estão preocupadas com a revitalização do grupo e sua determinação em realizar ataques contra o Ocidente

Prisões recentes nos Estados Unidos e na Europa colocaram as agências de inteligência e segurança em alerta, levantando preocupações sobre um Estado Islâmico (EI) revitalizado e determinado a atacar o Ocidente. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Na quarta-feira (16), autoridades do FBI, a polícia federal norte-americana, confirmaram que a agência compartilhou informações com autoridades francesas após a prisão de Nasir Ahmad Tawhedi, um afegão de 27 anos, em Oklahoma City, no estado de Oklahoma, na semana passada. Ele foi acusado de planejar um tiroteio em massa em nome do Estado Islâmico, que coincidiria com as eleições dos EUA em novembro.

O acusado chegou a obter armas de fogo e munição que seriam usadas no ataque. Durante a preparação, o homem teria ainda vendido os bens da família e enviado os parentes para o exterior, preparando-se para os efeitos da ação terrorista que planejava executar.

As informações resultaram na prisão de um cidadão afegão de 22 anos na região de Haute-Garonne, na França. De acordo com as autoridades francesas, ele tem ligação com Tawhedi.

Imagem de propaganda veiculada pelo Estado Islâmico em 2015 (Foto: Creative Commons)

A prisão aconteceu após a detenção de outros três homens na mesma área, também de forma progressiva com os Estados Unidos. Os promotores antiterrorismo da França informaram no sábado que os suspeitos, todos confirmados ligados ao EI, parecem ter planejado um ataque contra um estádio de futebol ou um shopping

Em comunicado, o FBI destacou que as prisões recentes na França, em conjunto com o escritório da Polícia Federal em Oklahoma City, evidenciam a importância das parcerias para identificar e prevenir potenciais atentados terroristas. O FBI destacou que sua prioridade é prevenir o terrorismo e que está comprometido em colaborar com parceiros, tanto nos EUA quanto internacionalmente, para identificar conspirações e proteger as comunidades da violência.

“A principal prioridade do FBI é prevenir atos de terrorismo, e estamos comprometidos em trabalhar com nossos parceiros no exterior e nos Estados Unidos para descobrir quaisquer conspirações e proteger nossas comunidades da violência”, disse a nota.

As prisões ocorreram após repetidos alertas de autoridades ocidentais de contraterrorismo sobre os planos do Estado Islâmico de realizar ataques nos EUA e na Europa. Além disso, surgiram preocupações específicas sobre a afiliada afegã do grupo, conhecida como Estado Islâmico-Khorasan (EI-K). 

Durante um webcast no mês passado, o procurador-geral adjunto dos EUA, Matthew Olsen, afirmou que o EI-K pretende realizar ataques fora do Afeganistão, incluindo nos Estados Unidos.

Matthew Olsen, procurador-geral adjunto dos EUA, afirmou no mês passado, durante um webcast do Washington Post, que o EI-Khorasan pretende realizar ataques externos, incluindo dentro dos Estados Unidos.

Por que isso importa?

Estado Islâmico (EI) passou por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo. O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

Ultimamente, porém, os EUA relatam um ressurgimento do grupo extremista que se concentra na Síria, onde novos seguidores são treinados para atuar como homens-bomba. Diante de tal cenário, dobraram em 2024 os ataques contra as forças aliadas de combate ao terrorismo, que ocorrem também no Iraque.

Mas o continente onde a facção mantém presença mais relevante é a África, através de afiliados locais. Um deles é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali, em Burkina Faso e no Níger. Ainda tenta alcançar a Nigéria para fins logísticos e de recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, HezbollahHamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.

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