A administração do presidente Donald Trump anunciou a ampliação das operações contra imigrantes supostamente ilegais nos EUA, elevando a tensão em Los Angeles, onde protestos contra as batidas migratórias completam quatro dias. “Realizamos mais operações hoje do que ontem, e amanhã vamos dobrar esses esforços novamente”, disse na segunda-feira (9) a secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem. Os números mostram a escalada: de uma média de 311 prisões diárias em 2024 para cerca de duas mil por dia nesta semana, segundo a agência Reuters.
O anúncio ocorre em meio a uma crise institucional entre o governo federal e o estado da Califórnia. O governador democrata Gavin Newsom entrou com uma ação na Justiça para impedir a chegada de quatro mil guardas nacionais e 700 fuzileiros navais enviados por Trump, chamando a medida de “um passo inconfundível em direção ao autoritarismo”.
“Desde a fundação de nosso país, o povo americano foi claro: não queremos as Forças Armadas fazendo trabalho policial em solo americano”, afirmou o senador Jack Reed, principal democrata no Comitê de Forças Armadas.

Os protestos em Los Angeles começaram na sexta-feira (6), após as primeiras operações migratórias em larga escala, e se transformaram em confrontos generalizados. Na noite de segunda, a polícia usou gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral para dispersar centenas de manifestantes que cercavam um centro de detenção federal.
“O que está acontecendo afeta todos os americanos, todos que querem viver em liberdade, não importa há quanto tempo suas famílias estão aqui”, declarou Marzita Cerrato, 42, filha de imigrantes mexicanos e hondurenhos.
A crise já se espalhou para outras grandes cidades americanas. Manifestações foram registradas em pelo menos nove cidades, incluindo Nova York, Filadélfia e San Francisco. Em Austin, no Texas, a polícia deteve vários manifestantes após choques com cerca de 300 pessoas. Em Los Angeles, os protestos foram marcados por bandeiras de países da América Central e do México e por gritos de “Libertem todos” dirigidos aos agentes federais.
Enquanto isso, a retórica entre autoridades federais e locais se radicalizou. A secretária Noem defendeu as operações em entrevista à Fox News: “Eles não são uma cidade de imigrantes. São uma cidade de criminosos”. Já a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, rebateu: “Esta é uma cidade de imigrantes”. O próprio Trump chegou a endossar publicamente a sugestão de seu assessor migratório para que o governador Newsom fosse preso por “obstrução”.
O uso de tropas militares em operações domésticas é extremamente raro nos EUA. A última vez que o Exército foi acionado para controle de distúrbios civis foi em 1992, durante os protestos pela absolvição dos policiais que espancaram Rodney King.