Haiti registra mês mais violento e impõe desafio crescente às ações humanitárias

Segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU, 806 civis foram feridos, sequestrados ou mortos na guerra entre gangues

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Em janeiro, o Haiti enfrentou seu período mais violento em dois anos, com pelo menos 806 civis feridos, sequestrados ou mortos em decorrência de conflitos entre gangues.

Os dados fornecidos pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU revelam que 300 membros de gangues foram mortos ou feridos em janeiro, elevando o total de pessoas afetadas para 1.108. Este número representa um aumento significativo em comparação com janeiro de 2023, triplicando os registros do ano anterior.

O chefe dos direitos humanos, Volker Turk, enfatiza a urgência do envio imediato da Missão Multinacional de Apoio à Segurança no Haiti para auxiliar a Polícia Nacional e garantir a segurança da população haitiana. 

Ele destaca a importância de operar dentro dos padrões internacionais de direitos humanos, referindo-se à missão autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro passado.

Na frente humanitária, a ONU está buscando US$ 674 milhões para auxiliar cerca de 3,6 milhões de haitianos nos próximos 12 meses, representando um aumento de 12% em relação ao ano anterior e marcando a maior cobertura populacional até o momento. 

O reajuste no valor é justificado pelo desempenho em 2023, quando o pedido de US$ 719 milhões recebeu apenas 34% de financiamento, uma tendência observada nos últimos cinco anos. O lançamento oficial do Plano de Resposta Humanitária 2024 está agendado para fevereiro.

Haitianos fogem da polícia em protestos contra o governo na capital Porto Príncipe, Haiti, em novembro de 2020 (Foto: WikiCommons/Al-Jazeera)
Deslocamento interno

Mais de 313 mil pessoas estão atualmente deslocadas internamente no país, de acordo com estatísticas publicadas em janeiro pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). O número é o dobro do estimado em 2022 e 170 mil são crianças. 

A OIM informou que mais de 60% foram deslocados somente em 2023, ilustrando a deterioração da situação humanitária durante o ano. A região da capital Porto Príncipe abriga a maioria dos deslocados. 

A situação atual está colocando uma enorme pressão sobre os recursos já limitados das comunidades anfitriãs e dos serviços sociais existentes. Segundo o Unicef, crianças e famílias sofrem com ondas implacáveis de violência brutal e constante medo.

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) projeta que em 2024 cerca de três milhões de crianças vão precisar de assistência humanitária e está buscando US$ 221,7 milhões para garantir uma resposta eficaz.

Sistema escolar severamente afetado

Desde a segunda quinzena de janeiro de 2024, mais de mil escolas foram gravemente afetadas pelas manifestações e pela insegurança nas proximidades de Porto Príncipe e em outras localidades. 

Cerca de 940 estruturas educacionais foram fechadas em todo o país, representando aproximadamente 5% de todas as escolas primárias e secundárias do sistema educacional haitiano. 

Enquanto isso, a análise mais recente de desnutrição realizada pelo Ministério da Saúde do Haiti e agências da ONU prevê uma deterioração da situação de junho a novembro de 2024. 

Cerca de 276 mil crianças com idade entre 6 e 59 meses, mulheres grávidas e lactantes estão em risco de desnutrição aguda, incluindo mais de 125 mil casos graves. 

A crise de desnutrição do Haiti resulta de uma combinação de fatores, incluindo pobreza, práticas alimentares e dietéticas ruins, higiene inadequada e acesso à água. A crise de segurança também está impactando o acesso a bens e serviços alimentares, com um aumento drástico nos preços de produtos essenciais devido ao fechamento de rotas de abastecimento e à escassez de fornecedores.

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