Embaixador diz que visita de Nancy Pelosi a Taiwan justifica os mísseis disparados pela China

Na Austrália, Xiao Qian também falou sobre deterioração da relação Beijing-Camberra, a qual atribui à imprensa australiana

Os Estados Unidos “dispararam o primeiro tiro”. A visita a Taiwan da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, foi usada na quarta-feira (10) pelo embaixador da China na Austrália para justificar os disparos de mísseis ao redor da ilha semiautônoma. As informações são do think tank Australian Strategic Policy Institute.

Falando ao National Press Club, na capital Camberra, Xiao Qian pediu aos australianos compreensão e apoio ao princípio “Uma só China”, política com a qual, segundo ele, Washington diz estar alinhada, mas não cumpre. Ela estabelece que Taiwan, bem como Hong Kong, são territórios chineses.

“Usamos a palavra ‘condenação’ porque, em primeiro lugar, foi o lado americano que deu o primeiro tiro. Foram eles que violaram o princípio Uma só China”, disse Xiao, acrescentando que o comprometimento dos EUA com o princípio é só verbal.

Xiao Qian, embaixador da China na Austrália (Foto: fmprc.gov.cn/)

“Eles dizem que estão comprometidos com o princípio em palavras, mas, na verdade estão fazendo algo exatamente oposto. Eles provocaram e nós reagimos para proteger nossa soberania e integridade territorial”, observou o chinês.

Antes da visita de Pelosi, a China prometeu aos EUA uma resposta “forte e resoluta”, já que viagens de autoridades estrangeiras a Taiwan são interpretadas como um reconhecimento da soberania do território. Após a partida dela, Xi Jinping ordenou a realização de exercícios militares ao redor de Taiwan – inclusive com testes de mísseis –, comportamento que sugeriu uma demonstração de força.

Sobre a movimentação das forças chinesas no Estreito de Taiwan, Xiao foi questionado se ela continuaria. Diante da pergunta, o embaixador foi claro em afirmar que seu país está enviando uma resposta de fácil compreensão para aqueles que apoiam a independência do território.

 “A reação é legítima e justificada”, disse. “E quanto tempo vai durar?”, perguntou retoricamente. E emendou: “Em um momento adequado, acho que haverá um anúncio”.

Xiao também foi sabatinado sobre por que a população de Taiwan, que chega a 23 milhões de pessoas, não deveria decidir sobre seu futuro, levando em consideração os protestos que aconteceram em Hong Kong a partir da mobilização de movimentos pró-democracia.

“Taiwan é parte da China e o povo chinês está determinado a proteger isso. O futuro de Taiwan será decidido por 1,4 bilhão de chineses”, disse, acrescentando que o problema em Hong Kong foi “resolvido” e há plena confiança de que o futuro de lá “será ainda mais brilhante”.

Questionado se a China tinha em mente “reeducar” taiwaneses no caso de tomar a ilha, Xiao respondeu que não tinha lido sobre tal política, porém, depois indicou que algo nesse sentido era “provável”. Então, um assunto espinhoso foi trazido à tona. “Então, isso seria como os campos de uigures em Xinjiang?”, perguntou um repórter. 

Xiao respondeu: “As pessoas em Xinjiang também são cidadãos chineses e recentemente receberam educação na escola, nas faculdades, na universidade, na China sobre sua pátria. Isso é muito normal. Os EUA e outros países descreveram a situação na província como genocídio“.

China-Austrália

Xiao também comentou a crise diplomática que abalou a relação cordial entre China e Austrália, que começou a se deteriorar em 2018, quando Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. E teve piora em 2020, quando os australianos cobraram uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira dos chineses.

Para ele, grande parte da culpa é da mídia australiana, a quem acusou de fazer uma cobertura negativa que “prejudicou a amizade entre nossos dois povos”.

O embaixador também disse que as medidas econômicas da China contra as importações australianas não são sanções. “Os consumidores chineses gostam dos produtos australianos e ações ‘mais positivas’ da Austrália podem persuadi-los a voltar a eles”.

Ele ainda afirmou que a China não pretende instalar uma base militar nas Ilhas Salomão, assunto que preocupa Camberra e fez soar o alarme em outros aliados ocidentais no Indo-Pacífico, colocando a pequena nação insular no olho do furacão de um debate tenso sobre o futuro da região.

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