A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse na quinta-feira (11) que a beligerância da China ainda se faz sentir, embora os exercícios militares tenham aparentemente diminuído. A ilha continua sob o impacto da visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, que mexeu com os brios de Beijing. As informações são do portal Swissinfo.
O governo chinês anunciou na quarta-feira (10) que as patrulhas serão mantidas, apesar de ter “concluído várias tarefas” em Taiwan. O comunicado, ao mesmo tempo em que acena para o término do desfile bélico ao redor da ilha, deixa claro que a pressão irá permanecer.
“Atualmente, a ameaça da força militar chinesa não diminuiu”, disse Tsai aos oficiais da força aérea por meio de um comunicado de seu gabinete.
Antes da visita de Pelosi, a China prometeu aos EUA uma resposta “forte e resoluta”, já que viagens de autoridades estrangeiras a Taiwan são interpretadas como um reconhecimento da soberania do território. Após a partida dela, Xi Jinping ordenou a realização de manobras ao redor da ilha, inclusive com testes de mísseis, comportamento que sugeriu uma demonstração de força.
Em menor escala, Taiwan também tem coordenado exercícios anuais com vistas a uma hipotética invasão, que já estavam programados antes da crise diplomática. Segundo a líder do território semiautônomo, não há intuito de alimentar o conflito, mas as defesas estarão a postos, caso aconteça.
“Defenderemos firmemente nossa soberania e segurança nacional e aderiremos à linha de defesa da democracia e da liberdade”, disse Tsai.
Além da imposição de força, Beijing ameaçou “sérias consequências” como retaliação à visita de Nancy, incluindo proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas.
Jogos de guerra
O exercício militar deveria ter se encerrado no último domingo (7). No entanto, dados coletados através de inteligência de código aberto indicam que Beijing provavelmente manterá a pressão nos próximos dias, segundo a rede Radio Free Asia.
Uma fonte informada sobre o assunto disse à agência Reuters que o número de navios de guerra no Estreito de Taiwan foi “bastante reduzido” em relação à semana passada. Porém, a marinha chinesa seguia realizando missões na costa leste de Taiwan e perto da ilha japonesa de Yonaguni na quinta-feira (12), com um número expressivo de navios, segundo o informante.
No mesmo dia, o Ministério da Defesa taiwanês disse em comunicado que detectou 21 aeronaves e seis navios chineses dentro e ao redor do Estreito de Taiwan. Onze aviões cruzaram a linha mediana. O número é inferior às 36 aeronaves e dez navios detectados no dia anterior, quando 17 aeronaves cruzaram a linha mediana.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.