Justiça dos EUA começa a ouvir chinês acusado de ameaçar colega pró-democracia

Acusado ameaçou "cortar as mãos" da vítima e denunciar a família dele ao governo chinês por manifestar oposição a Beijing

Xiaolei Wu, um cidadão chinês que vive e estuda nos Estados Unidos, apareceu diante de um tribunal federal norte-americano pela primeira vez na quarta-feira (26). Ele é acusado de assediar e ameaçar um colega que manifestou apoio ao movimento democrático chinês. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Os incidentes que levaram à acusação contra Xiaolei teriam ocorrido entre 22 e 24 de outubro de 2022, e no dia 14 de dezembro o estudante foi preso pelo FBI, a polícia federal norte-americano. Ele se declarou inocente e foi libertado sob fiança. O julgamento está agendado para o dia 22 de janeiro.

Conteúdo online sofre forte censura por parte do regime chinês (Foto: WikiCommons)

O estudante chinês é alvo de duas acusações: perseguição cibernética e realizar transmissões interestaduais de comunicações ameaçadoras. Em caso de uma sentença condenatória, pode cumprir até cinco anos de prisão, com multa de US$ 250 mil.

A vítima seria um estudante da Faculdade de Música de Berklee, na cidade de Boston, onde também estuda Xiaolei. O réu teria começado a assediar e ameaçar o colega depois que este espalhou pelo campus da universidade panfletos com mensagem pró-democracia, como “apoie o povo chinês” e “queremos liberdade”.

A vítima, então, passou a receber mensagens ameaçadoras através do aplicativo de mensagens WeChat, da rede social Instagram e por e-mail. Entre outras coisas, o acusado ameaçou cortar as mãos” do colega e denunciá-lo aos serviços de segurança chineses, que então “cumprimentariam” a família dele ainda vivendo na China.

Turbulência em Berklee

No início desta semana, a reitora da Faculdade, Erica Muhl, renunciou ao cargo sem dar explicações. Em maio ela se reuniu em Beijing com Qin Gang, então ministro das Relações Exteriores da China, para debater o fortalecimento do programa de intercâmbio entre a instituição de ensino e o governo chinês.

Antes, no final do ano passado, Qin também havia feito uma visita a Berklee, somente uma semana antes de Xiaolei ter sido preso pelo FBI. Na ocasião, a embaixada da China nos EUA emitiu um comunicado dizendo que o então ministro “espera que a Faculdade de Música de Berklee desempenhe um papel maior para trazer mais energia positiva às relações sino-americanas”.

Qin foi misteriosamente destituído do cargo no início desta semana, após ter ficado cerca de um mês fora dos holofotes. Até agora não se sabe o paradeiro do ex-ministro, que assumiu o cago no final de 2022 depois de ter servido como embaixador da China em Washington.

No período que esteve no cargo, ele teve um papel crucial nos esforços de restaurar a comunicação entre os EUA e a China, incluindo uma reunião com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, em 18 de junho, durante a visita do diplomata americano a Beijing.

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