Xi Jinping afasta Ministro das Relações Exteriores após um mês de sumiço inexplicado

Qin Gang, cuja última aparição pública havia sido em junho, passou somente sete meses no cargo antes de ser destituído

Nesta terça-feira (25), em uma mudança drástica na política externa da China, o ministro das Relações Exteriores, Qin Gang, foi destituído de suas funções. O desaparecimento sem justificativa oficial do político desde o mês passado vinha levantando especulações sobre seu destino, e agora ele foi substituído por seu antecessor. As informações são da rede CNN.

Aos 57 anos, Qin, um diplomata de carreira, era um assessor de confiança do líder chinês, Xi Jinping. Em dezembro do ano anterior, ele assumiu a pasta após servir como embaixador da China em Washington.

No período que esteve no cargo, ele teve um papel crucial nos esforços de restaurar a comunicação entre os EUA e a China, incluindo uma reunião com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, em 18 de junho, durante a visita do diplomata americano a Beijing.

A decisão de afastá-lo foi aprovada pelo principal órgão de decisão parlamentar da China, marcando uma mudança incomum na liderança da política externa do país. O mistério em torno da ausência de Qin Gang por um mês – o último compromisso oficial foi em 25 de junho – levanta questionamentos sobre os motivos por trás dessa repentina mudança de posição.

Qin Gang em 2021, quando atuava como embaixador da China em Washington (Foto: WikiCommons)

A mais alta legislatura chinesa votou e nomeou Wang Yi como o novo titular das Relações Exteriores, conforme relatado pela agência de notícias estatal Xinhua. Em decorrência desta decisão, Qin Gang foi removido do cargo.

Wang está retornando ao cargo que ocupou entre 2018 e 2022. Atualmente, ele está na África do Sul, participando de uma reunião de segurança nacional do BRICS. A nomeação ocorre em meio a especulações sobre o destino de Qin e levanta questões sobre os próximos rumos da política externa chinesa sob a novo ciclo de Wang.

No sistema do Partido Comunista Chinês (PCC), a formulação da política externa é realizada por um funcionário de alto escalão, que então instrui o ministro das Relações Exteriores a implementá-la.

Além disso, os legisladores também votaram para substituir o chefe do Banco Central da China, com o economista Pan Gongsheng no lugar do governador cessante Yi Gang, como também informado pela Xinhua.

Qin Gang era uma figura proeminente no governo chinês, amplamente reconhecido tanto por diplomatas e observadores internacionais quanto pelo povo chinês em geral. Sua ausência prolongada não passou despercebida e causou questionamentos.

Há cerca de um mês, ele subitamente desapareceu de suas funções habituais e não esteve presente na cúpula anual da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático, da sigla em inglês). A explicação oficial oferecida na época foi vagamente relacionada a problemas de saúde não especificados.

Especulações

Na noite de terça (horário local de Beijing), o perfil de Qin Gang foi removido do site do Ministério das Relações Exteriores, com uma mensagem indicando “informações sendo atualizadas”.

Qin teve uma ascensão rápida ao cargo de ministro das Relações Exteriores, surpreendendo observadores da elite política chinesa, mas sendo visto como sinal de confiança de Xi Jinping no diplomata.

A falta de detalhes sobre sua ausência levou a especulações de punição política ou envolvimento em um caso extraconjugal, conforme relatado pela rede BBC.

Figuras importantes na China frequentemente desaparecem da vista pública por longos períodos, reaparecendo mais tarde como alvo de investigações criminais ou sem explicação. Um exemplo é Xi Jinping, que pouco antes de se tornar líder da China em 2012 desapareceu por quinze dias, o que provocou especulações sobre sua saúde e possíveis disputas de poder dentro do partido.

O interesse na China sobre o paradeiro de Qin Gang tem se intensificado, e houve aumento significativo nas buscas por seu nome no mecanismo de busca Baidu. É incomum que rumores sobre uma autoridade de tão alto escalão sejam discutidos na Internet chinesa sem que haja uma censura total, dizem os observadores.

Ian Chong, da Universidade Nacional de Singapura, destacou que a ausência de censura gera questionamentos sobre a veracidade dos rumores sobre lutas de poder, corrupção, abuso de poder e relacionamentos românticos envolvendo Qin Gang.

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