A Human Rights Watch (HRW) atribuiu ao regime de Nicolás Maduro uma série de abusos cometidos durante os protestos populares que se seguiram à recente eleição presidencial na Venezuela. Uma das acusações é a de que agentes a serviço do governo estão envolvidos em algumas da 24 mortes registradas durante a onda de manifestações, sendo uma das vítimas um membro das forças de segurança.
Os protestos tomaram as ruas do país após Maduro celebrar a vitória no pleito, alegando que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) concedeu a ele 51% dos votos. Porém, a oposição classificou o anúncio como fraudulento e contestou o resultado, afirmando que na verdade foi o rival Edmundo González quem venceu a eleição, com 70% dos votos.
Muitos venezuelanos, então, foram às ruas protestar e realizaram “cacerolazos”, batendo panelas e frigideiras. Houve demonstrações ainda mais vigorosas de descontentamento em todo o país, incluindo a derrubada de uma estátua do antecessor de Maduro, Hugo Chávez, no estado de Falcón.
Em Petare, uma das áreas mais pobres de Caracas, jovens mascarados arrancaram cartazes de campanha dos postes de luz. Alguns opositores bloquearam estradas, atearam fogo e lançaram coquetéis molotov na polícia, incluindo nas proximidades do palácio presidencial de Miraflores, em Caracas.
A resposta das forças de segurança foi violenta. De acordo com a HRW, autoridades venezuelanas e grupos armados pró-governo conhecidos como “coletivos” cometeram abusos generalizados, incluindo assassinatos, detenções e processos arbitrários e assédio a críticos.
As ações do regime culminaram com a emissão, na última segunda-feira (2), de um mandado de prisão contra o candidato da oposição Edmundo González por “conspiração”, “incitação à desobediência” e outros crimes.
“A repressão que estamos vendo na Venezuela é chocantemente brutal”, disse Juanita Goebertus, diretora da HRW para as Américas. “Governos preocupados precisam tomar medidas urgentes para garantir que as pessoas possam protestar pacificamente e que seu voto seja respeitado.”
Entre os graves abusos relatados pela HRW estão 24 mortes, sendo as vítimas 23 manifestantes ou pessoas que no momento passavam pelas ruas, além de um policial. A entidade diz ter investigado 11 desses casos, inclusive revisando certidões de óbito, verificando vídeos e fotografias e entrevistando 20 pessoas, incluindo testemunhas e outras fontes locais.
“Muitos parentes, testemunhas e outros não estavam dispostos a ser entrevistados porque temiam retaliações do governo”, diz a ONG.