ONU reforça pedido por força especializada para conter a violência no Haiti

Somente nas duas primeiras semanas de março, confrontos entre gangues deixaram pelo menos 208 mortos, 164 feridos e 101 sequestrados

Uma força especializada deve ser enviada para ajudar com urgência as autoridades haitianas a enfrentar um tsunami de violência de gangues, já que estupros, assassinatos e sequestros se tornaram ameaças diárias. O apelo, que já havia sido feito antes, foi reforçado por Marta Hurtado, porta-voz do chefe de direitos humanos da ONU, na terça-feira (21).

“Estamos seriamente preocupados com o fato de a violência extrema continuar fora de controle no Haiti”, disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH).

Somente nas duas primeiras semanas de março, confrontos entre gangues deixaram pelo menos 208 mortos, 164 feridos e 101 sequestrados.

Refletindo essas graves preocupações, a ONU Haiti emitiu um comunicado na terça-feira, condenando veementemente a “violência extrema perpetrada por gangues armadas” e expressando seu apoio ao povo haitiano.

Como confrontos cada vez mais violentos e frequentes entre gangues rivais na capital Port-au-Prince e outras regiões estão matando e ferindo centenas e desalojando milhares, Hurtado disse que o Alto Comissário enxerga uma ação imediata como necessária.

“Pedimos à comunidade internacional que considere urgentemente a implantação de uma força de apoio especializada com prazo determinado em condições que estejam em conformidade com as leis e normas internacionais de direitos humanos, com um plano de ação abrangente e preciso”, disse ela.

Haitianos fogem da polícia em protestos contra o governo na capital Porto Príncipe, Haiti, em novembro de 2020 (Foto: WikiCommons/Al-Jazeera)

O Alto Comissário Volker Türk também instou as autoridades haitianas a lidar com a grave situação. “As pessoas devem poder regressar às suas casas em condições seguras e dignas”, afirmou, apelando às autoridades para que reforcem as capacidades da Polícia Nacional e procedam uma profunda reforma judicial, envolvendo mais apoio da comunidade internacional.

“Para quebrar o ciclo de violência, corrupção e impunidade, todos os responsáveis , incluindo aqueles que fornecem apoio e financiamento às gangues, devem ser processados ​​e julgados de acordo com o estado de direito”, disse a porta-voz. “Os direitos à verdade, justiça e reparação de todas as vítimas devem ser cumpridos.”

Assassinatos, estupro e sequestro

O pedido urgente de ação do Alto Comissário ecoa os apelos por maior assistência feitos no sábado (18) por um grupo de altos funcionários da ONU, após uma missão de averiguação ao Haiti.

Hurtado disse que a maioria das vítimas foi morta ou ferida por franco-atiradores que atiravam aleatoriamente nas pessoas em suas casas ou nas ruas. A violência sexual também é usada por gangues contra mulheres e meninas para aterrorizar, subjugar e punir a população.

Membros de gangues frequentemente usam violência sexual contra meninas sequestradas para pressionar as famílias a pagar um resgate.

Alunos e professores foram atingidos por balas perdidas durante confrontos de gangues, e o sequestro de pais e alunos nas proximidades de escolas aumentou, obrigando muitas delas a fechar. Sem o ambiente protetor das escolas, muitas crianças foram recrutadas à força por gangues armadas, disse a porta-voz do Alto Comissariado.

“As pessoas estão fugindo para escapar do perigo diário”, declarou.

Milhares de deslocados

Até meados de março, pelo menos 160 mil pessoas foram deslocadas e estão em situação precária, ficando com amigos ou parentes e tendo que compartilhar escassos recursos. Um quarto dos deslocados vive em assentamentos improvisados, com acesso muito limitado a serviços básicos como água potável e saneamento.

A instabilidade crônica e a violência das gangues contribuíram para o aumento dos preços e a insegurança alimentar. Metade da população não tem o suficiente para comer, e em algumas áreas, como Cité Soleil, a fome atingiu níveis particularmente alarmantes, disse a porta-voz.

Durante sua visita ao Haiti em fevereiro, o chefe de direitos humanos, Volker Türk, emitiu “um alerta” para a comunidade internacional que ainda não foi atendido, segundo Hurtado. Perante a gravidade da situação, ela sublinhou que “as suas recomendações são mais urgentes do que nunca”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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