O assassinato do ativista e influenciador conservador Charlie Kirk, em 12 de setembro, em Orem, no estado do Utah, desencadeou não apenas luto e manifestações políticas, mas também uma onda de perseguições online e demissões em diferentes partes dos Estados Unidos. As informações são da NPR.
De acordo com levantamento da reportagem, ao menos 33 pessoas já foram demitidas, colocadas em licença ou estão sob investigação em razão de postagens nas redes sociais criticando Kirk ou demonstrando satisfação com sua morte. A maioria são professores de escolas públicas, mas há também bombeiros, militares, um repórter esportivo, um funcionário do time de futebol americano Carolina Panthers e até um vereador em Indiana.
Além desses casos, o vice-secretário de Estado dos EUA, Christopher Landau, pediu a revogação do visto de um neurocirurgião brasileiro que comemorou nas redes sociais o assassinato de Kirk. Em publicação no Instagram, o médico pernambucano elogiou o atirador, o que Landau classificou como “a fala mais assustadora” entre as postagens analisadas.

Caça às postagens
A reação mais intensa partiu de influenciadores e ativistas conservadores, que passaram a coletar prints de publicações críticas e a pressionar empregadores a demitir os autores. Entre os mais atuantes está Joey Mannarino, que incentivou seus seguidores a identificar pessoas por fotos, cruzar informações no LinkedIn e ligar para locais de trabalho.
Um site anônimo chamado Expose Charlie’s Murderers também entrou em cena, reunindo nomes, empregos e postagens de supostos “celebradores” da morte de Kirk. Até sexta-feira (12), listava mais de 40 pessoas e prometia chegar a um banco de dados com 20 mil entradas. Segundo a revista Wired, alguns citados receberam ameaças de morte.
Demissões de alto perfil
Entre os casos mais notórios está a saída de Matthew Dowd, analista da MSNBC e ex-consultor político de George W. Bush. Durante transmissão ao vivo, pouco depois da notícia do tiroteio, Dowd especulou que o disparo poderia ter sido feito por um apoiador “em celebração” e disse que o discurso de Kirk alimentava ódio.
As declarações foram suficientes para que conservadores exigissem sua demissão. Dowd pediu desculpas depois, alegando não saber naquele momento que Kirk havia sido o alvo do ataque, mas acabou desligado ainda na mesma noite.
Pressão política
A mobilização não ficou restrita às redes sociais. Parlamentares republicanos e autoridades federais prometeram punições mais duras.
A senadora Marsha Blackburn (Republicanos do Tennessee) defendeu a demissão imediata de servidores públicos que ironizaram a morte de Kirk. Já o secretário adjunto de Estado, Christopher Landau, sugeriu revogar vistos de estrangeiros que fizessem postagens depreciativas. O secretário da Marinha, John Phelan, alertou que militares e civis ligados ao departamento seriam punidos caso agissem de forma que “desacreditasse” as Forças Armadas.
O deputado Clay Higgins (Republicanos da Louisiana) foi além: disse que buscaria banimentos permanentes em plataformas digitais e até a cassação de licenças comerciais de quem zombasse da morte de Kirk.
Liberdade de expressão em risco?
Especialistas em direitos humanos e liberdade de expressão apontam risco de reação desproporcional. David Kaye, professor da Universidade da Califórnia, destacou que a violência política “não tem lugar em uma democracia”, mas advertiu que reprimir o debate sobre o legado de Kirk também compromete princípios democráticos.
A professora Loretta Ross, do Smith College, comparou a ofensiva ao período do macarthismo, quando dissidentes eram perseguidos por suas opiniões. “É triste e trágico que a morte de alguém se torne apenas mais uma maneira de aprofundar nossas divisões”, afirmou à NPR.
Contexto: Charlie Kirk, de 31 anos, era um dos nomes mais proeminentes da direita americana, fundador do grupo conservador Turning Point USA. Ele ficou conhecido por sua retórica agressiva contra imigrantes, pessoas transgênero, a Lei dos Direitos Civis de 1964 e até por relativizar mortes causadas por armas de fogo em defesa da Segunda Emenda.