O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, vem ampliando seu discurso expansionista com declarações polêmicas sobre a anexação do Canadá, a tomada militar da Groenlândia e o controle do Canal do Panamá. As falas, que geram repercussão internacional, marcam uma guinada imperialista em sua política externa e preocupam analistas e aliados. As informações são da agência Associated Press (AP).
Trump justificou suas ideias com argumentos de segurança nacional e ganhos econômicos, dizendo que a anexação do Canadá pelos EUA seria positiva. “Você se livra dessa linha artificialmente desenhada, e dá uma olhada no que isso parece. Seria muito melhor para a segurança nacional.”
No caso da Groenlândia, ele destacou a importância estratégica do território, que abriga a Base Espacial Pituffik, fundamental para alertas de mísseis e vigilância espacial.
No entanto, as declarações geram reações contrárias tanto de especialistas quanto de líderes globais. John Bolton, ex-assessor de segurança nacional e crítico de Trump, afirmou que tais falas são um presente para rivais.
“Se sou Putin ou Xi, isso é música para os meus ouvidos”, declarou Bolton, que classificou a abordagem de Trump como centrada em interesses pessoais.
A retórica expansionista também afetou diretamente as relações com o Canadá. Dominic LeBlanc, ministro das Finanças canadense e responsável pelas relações com os EUA, criticou as declarações de Trump. “A piada acabou. É uma maneira de criar confusão, agitar as pessoas e gerar caos, sabendo que isso nunca acontecerá”, disse.
No México, o presidente Claudia Sheinbaum ironizou outra sugestão de Trump, que propôs renomear o Golfo do México como “Golfo da América”. Sheinbaum respondeu com sarcasmo. “América Mexicana seria um nome bonito, não?”, afirmou, referindo-se a um documento histórico de 1814 que usava esse termo para descrever o continente.
Dinamarca e Panamá também reagiram duramente. Javier Martínez-Acha, ministro das Relações Exteriores do Panamá, reforçou que o controle do Canal do Panamá é “irrevogável e parte da história de luta do país”. Enquanto isso, aliados europeus manifestaram preocupações sobre a estabilidade das fronteiras, especialmente em meio à invasão russa da Ucrânia e às ameaças chinesas a Taiwan.
Analistas temem que as declarações de Trump incentivem rivais globais a desafiarem a soberania de outras nações. Michael McFaul, ex-embaixador dos EUA na Rússia, destacou a necessidade de fortalecer alianças em momentos críticos. “Aliados são nosso superpoder. Eu gostaria que ele se concentrasse nas ameaças reais e não inventasse ameaças”, declarou
Mesmo entre apoiadores de Trump há divergências sobre o impacto de sua retórica. Charlie Kirk, um aliado importante, defendeu a proposta sobre a Groenlândia como parte de uma “energia americana masculina” e comparou a ideia ao retorno do “Destino Manifesto”.
Por outro lado, Mike O’Hanlon, do Brookings Institution, alertou para possíveis conflitos diplomáticos e militares, inclusive sugerindo um conflito que colocaria os EUA contra as entre nações ocidentais. “Você poderia argumentar que o resto da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) seria obrigado a defender a Dinamarca.”