Um contador de Honduras, exilado por temer retaliação, afirmou na última terça (16) ter testemunhado o presidente hondurenho Juan Orlando Hernández recebendo propina em duas reuniões com um narcotraficante em 2013.
Em ambos os encontros, Hernández e o traficante teriam discutido “proteção e recebimento de drogas”, disse José Sánchez – pseudônimo usado pelos promotores para não divulgar o nome da testemunha.
Na primeira reunião, o presidente de Honduras teria recebido US$ 10 mil e, em outro, US$ 15 mil em propina, relatou a Associated Press, que teve acesso à cópia da denúncia. O contador foi o responsável por contar o dinheiro na frente de Hernández e do traficante.
O narcotraficante era Geovanny Fuentes Ramírez, preso desde 2020 e aguardando julgamento nos EUA. Produtor de cocaína, Ramirez mencionou o presidente em uma delação sobre recebimento de propina em 2013.
Conforme Sánchez, Hernández chegou várias vezes na empresa em que o contador trabalhava em um helicóptero para receber os pagamentos mensais de 250 lempiras – cerca de R$ 55 mil. Os recursos iam para a sua campanha, disse a testemunha.
Empresário e militares envolvidos
O escritório pertencia a Fuad Jarufe, dono da empresa alimentícia Graneros Nacionales, em Choloma, ao norte de San Pedro Sula. “Seremos intocáveis”, teria dito o presidente, ao solicitar a recontagem do contador.
“Ele ia enfiar enfiar as drogas no nariz dos gringos e eles nem iam perceber”, relatou Sánchez. O depoimento condiz com o relatado por Ramírez ao tribunal de Nova York, nos EUA. A movimentação de drogas e dinheiros acontecia com o auxílio de militares e policiais, disse a testemunha, em registro da BBC.
Além de ter sido citado por Ramírez nos EUA, o presidente hondurenho foi identificado como co-conspirador no julgamento ao seu irmão em 2019. À época, os promotores concluíram que o político recebeu milhões de dólares do tráfico de drogas para suas campanhas políticas.
Hernández conquistou o primeiro mandato em 2013. Antes disso, ele havia sido presidente do Congresso de Honduras. O presidente nega as acusações e a participação em qualquer irregularidade. Sánchez deixou Honduras por medo de ser morto após presenciar as transações.