O bloqueio temporário na concessão de vistos a estudantes estrangeiros, promovido pela administração Trump, pode desencadear um efeito duradouro: o enfraquecimento da principal vantagem competitiva dos EUA na disputa global por talentos. É o que sugere artigo publicado pela revista The Economist, que vê na medida mais uma tentativa de subjugar as universidades de elite, tratadas por setores do governo como adversárias políticas.
Enquanto suspende temporariamente a emissão de vistos para estudantes estrangeiros, o governo Trump avalia uma nova exigência: que os perfis nas redes sociais dos candidatos sejam examinados antes da aprovação do visto. Segundo a reportagem, essa triagem digital busca identificar opiniões consideradas “problemáticas” pelas autoridades.
A medida, embora ainda em fase de revisão, já lança dúvidas sobre a liberdade de expressão nos campi e reforça a sensação de vigilância entre os estudantes internacionais. Algo que, para a The Economist, tende a afastar jovens brilhantes e comprometer o papel global das universidades americanas.

Mais do que formar quadros de excelência em ciência, artes e negócios, o sistema universitário dos EUA opera historicamente como ferramenta de influência cultural. “Ao atrair elites estrangeiras para a órbita cultural dos EUA, elas amplificam o soft power americano no exterior”, afirma o artigo. Ao limitar a entrada desses estudantes, a Casa Branca pode estar sabotando uma das formas mais eficazes de exercer poder sem recorrer à força.
A medida faz parte de um conjunto mais amplo de ações voltadas a conter a influência das universidades, sobretudo aquelas consideradas progressistas. Segundo o texto, elas incluem a suspensão de bolsas de pesquisa, o congelamento de pedidos de visto e a proposta de aumentar impostos sobre fundos universitários. O artigo cita uma frase de J.D. Vance, hoje vice-presidente: “As universidades são o inimigo”.
A exigência de que os candidatos tenham suas redes sociais vasculhadas aprofunda essa lógica. “A universidade deveria ser um lugar onde os jovens exploram novas ideias, e não onde chegam com celulares descartáveis, com medo de revelar que um dia compartilharam um meme simpático aos palestinos ou zombando de Trump”, escreve a revista. Na prática, os únicos com “ficha limpa” para entrar seriam estudantes de regimes autoritários, treinados desde cedo a evitar qualquer traço de dissidência pública.
Embora os EUA ainda concentrem muitas das melhores universidades do mundo, os sinais de desgaste já aparecem e estariam “afastando candidatos”. Em um cenário cada vez mais competitivo, países como Canadá, Alemanha, Austrália e até China surgem como alternativas viáveis para jovens talentosos. “Por que pagar para estudar em um país onde o presidente não quer você, seu visto pode ser revogado antes da formatura, você será vigiado e talvez não possa trabalhar?”, questiona o artigo.