Rússia liberta americanos em maior acordo de troca de prisioneiros desde a Guerra Fria

Oito pessoas, incluindo um assassino preso na Alemanha, foram enviadas de volta a Moscou em troca de 16 pessoas detidas pelos russos

O repórter do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, e o ex-fuzileiro naval dos EUA, Paul Whelan, foram libertados da custódia russa na quinta-feira (1º), em uma das maiores trocas de prisioneiros entre Washington, Moscou e quatro outros países desde a Guerra Fria. As informações são da rede CNN.

A grande troca foi o resultado de anos de negociações complexas entre os EUA, Rússia, Belarus e Alemanha. O acordo levou Berlim a atender à principal demanda de Moscou: a libertação do assassino russo condenado Vadim Krasikov.

No total, oito pessoas, incluindo Krasikov, foram devolvidas à Rússia em troca da liberação de 16 detidos na Rússia, incluindo quatro cidadãos norte-americanos.

Evan Gershkovich foi detido pelo FSB no final de março do ano passado (Foto: Facebook/reprodução)

Além de Whelan e Gershkovich, também foram libertados o jornalista russo Vladimir Kara-Murza, crítico feroz do presidente Vladimir Putin e da guerra da Ucrânia, que é residente permanente dos EUA, e a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva. Às 12h, os três estavam a caminho dos EUA, conforme informou o secretário de Estado Antony Blinken.

Na quinta-feira, a redação do The Wall Street Journal comemorou a libertação de Gershkovich com champanhe. Emma Tucker, editora-chefe, chamou o evento de “um dia histórico” para o jornal.

O presidente Joe Biden agradeceu aos aliados dos EUA – Alemanha, Polônia, Eslovênia, Noruega e Turquia – por sua ajuda na troca de prisioneiros, destacando suas “decisões corajosas” e suporte logístico para “trazer os americanos de volta para casa”. O chefe da Casa Branca se encontrou com as famílias mais cedo para informar que seus entes queridos estavam retornando aos seus lares.

A troca de 24 prisioneiros, resultado de meses de negociações, representa um raro momento de cooperação entre a Moscou e seus rivais ocidentais após mais de dois anos de guerra da Rússia na Ucrânia.

Entre os que voltaram à Rússia estava Vadim Krasikov, um assassino que estava preso na Alemanha desde 2021. A libertação de Krasikov foi a principal concessão para trazer Gershkovich, Whelan e outros de volta para casa. O Serviço de Segurança Russo divulgou uma declaração afirmando que oito cidadãos russos, que haviam sido detidos em vários países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), juntamente com crianças, foram devolvidos à Rússia.

Livres

Gershkovich estava preso desde 29 de março de 2023, quando visitava a Rússia trabalho e tinha autorização para trabalhar no país produzindo reportagens para o WSJ. Na visão de Moscou, entretanto, ele atuava a serviço da CIA (Agência Central de Inteligência, da sigla em inglês) e tinha como missão coletar dados sobre empresas do setor de defesa local.

Paul Whelan, de 54 anos, trabalhava na segurança de uma empresa de peças de veículos dos EUA quando foi preso em Moscou em 2018. Ele foi condenado a uma pena de 16 anos por acusações de espionagem que ele e Washington negam.

Kara-Murza foi julgado e condenado por crimes diversos. O que rendeu maior pena foi de “traição”, com sentença de 18 anos de prisão. Ele pegou ainda sete anos por divulgar “informações falsas” sobre as forças armadas e três anos por participar de atividades de uma “organização indesejável”. Embora a pena somada seja de 28 anos, foi aplicada a de 25 anos, que é a máxima permitida. O opositor, que deixou o jornalismo para ingressar na política, foi detido em Moscou em 11 de abril do ano passado. De acordo com as autoridades, ele foi considerado suspeito porque “mudou a trajetória” do veículo que dirigia quando avistou policiais.

Alsu Kurmasheva, uma jornalista com cidadania russa e norte-americana, foi presa na Rússia em outubro do ano passado sob acusação de violar a lei local de “agente estrangeiro“. A prisão dela esteve relacionada a alegações de que a repórter e editora, que trabalhava para a Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE-RL), uma rede financiada pelo governo dos Estados Unidos, fez reportagens sobre a presença de professores universitários nas forças russas na Ucrânia

Vadim Krasikov é acusado de atirar em Zelimkhan Khangoshvili, um pseudônimo adotado por Tornike Kavtarashvili, cidadão georgiano de etnia chechena, no Parque Kleiner Tiergarten, em agosto de 2019. O julgamento se arrasta há mais de um ano, e agora os promotores de Berlim responsáveis pelo caso fizeram o pedido da pena. Identificado pela Justiça Federal alemã como “comandante de uma unidade especial dos serviços secretos russos da FSB” (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês), ele ingressou na Alemanha com passaporte russo e nome falso, Vadim Sokolov. Foi preso pouco depois do crime e alega inocência desde então.

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