A Promotoria da Alemanha pediu prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional, para um cidadão russo acusado de assassinar um ex-comandante checheno em Berlim, há aproximadamente dois anos. Ele teria agido sob ordens do governo da Rússia, segundo informações da Radio Free Europe.
Vadim Krasikov é acusado de atirar em Zelimkhan Khangoshvili, um pseudônimo adotado por Tornike Kavtarashvili, cidadão georgiano de etnia chechena, no Parque Kleiner Tiergarten, em agosto de 2019. O julgamento se arrasta há mais de um ano, e agora os promotores de Berlim responsáveis pelo caso fizeram o pedido da pena.
Identificado pela Justiça Federal alemã como “comandante de uma unidade especial dos serviços secretos russos da FSB” (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês), ele ingressou na Alemanha com passaporte russo e nome falso, Vadim Sokolov. Foi preso pouco depois do crime e alega inocência desde então.
Lars Malkies, um dos promotores encarregados do caso, disse ao tribunal que o suspeito “liquidou um oponente político como um ato de retaliação”. Já o colega dele Nikolaus Forschner afirmou que o acusado havia cumprido uma “ordem estatal de matar”.
Em audiência anterior, o suspeito disse ao tribunal por meio de seu advogado que deveria ser identificado apenas como Vadim Sokolov, que é “russo, solteiro e engenheiro de construção”. Afirmou, ainda, que não conhece “ninguém” chamado Krasikov.
Por sua vez, Khangoshvili, a vítima, lutou contra as tropas russas na Chechênia, o que ajuda a explicar a ordem para matá-lo. Ele já havia sobrevivido a várias tentativas de assassinato e continuou a receber ameaças depois de fugir em 2016 para a Alemanha, onde recebeu asilo.
Por que isso importa?
As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis semelhantes aos dos tempos de Guerra Fria. Em junho, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.
A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da UE (União Europeia), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang diz que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, diz.
Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público, como o ataque cibernético contra 38 parlamentares alemães em março. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, supostamente do GRU (Serviço de Inteligência Militar da Rússia). O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta a sigla da chanceler Angela Merkel.