Soldados colombianos reforçam a luta da Ucrânia contra a Rússia

Atraídos por salários quatro vezes maiores, combatentes testados na árdua luta contra cartéis do narcotráfico se aliam a Kiev

Após quase dois anos de conflito, as tropas ucranianas estão exaustas. Enquanto enfrentam o poderio militar russo, cada anúncio de reforço de combatentes experientes que se integram a um dos conflitos mais longos da história soa como música para os ouvidos de quem está próximo do limite físico e mental por conta de uma guerra que não dá sinais de paz.

É o caso do sotaque espanhol de soldados profissionais da Colômbia, que têm engrossado as fileiras junto de voluntários de diversas partes do mundo que responderam ao apelo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para auxiliar na defesa do país contra as tropas de Vladimir Putin. O relato é da agência Associated Press.

Se trata de um reforço que chega com bom currículo de combate, considerando que o Exército da Colômbia lida com o narcotráfico, grupos rebeldes e organizações criminosas que operam em áreas de conflito e controle territorial por décadas, tornando seus soldados uns dos mais experientes do mundo.

Forças Especiais Antiterroristas Urbanas (AFEAU), divisão de combate ao terror colombiana (Foto: WikiCommons)

E há relatos de heroísmo no front por parte dos sul-americanos. Um homem de 32 anos, natural de Medellín, arriscou sua vida para resgatar um colega ferido após três dias de intensos combates contra as forças invasoras. Em meio ao conflito, drones russos atacaram o grupo, e uma granada lançada por um deles perfurou a mandíbula do homem, apelidado de “Checho”.

A Colômbia possui o segundo maior exército da América Latina, com 250 mil soldados, somente atrás do Brasil. Mais de dez mil deles se aposentam anualmente, e muitos estão se dirigindo para lutar na Ucrânia, onde recebem até quatro vezes mais do que ganhariam como suboficiais experientes na Colômbia.

Esse fenômeno tem explicação simples. Segundo Andrés Macías, da Universidade Externado de Bogotá, que estuda o trabalho dos colombianos como contratados militares pelo mundo, embora a Colômbia tenha um Exército forte e bem treinado, a remuneração “não é tão atrativa” em comparação com outros países.

Soldados colombianos aposentados começaram a trabalhar no exterior por volta do ano de 2000 como contratados militares dos EUA, protegendo infraestrutura no Iraque e atuando como instrutores nos Emirados Árabes Unidos. Alguns também participaram de operações no Iêmen contra os rebeldes Houthis, apoiados pelo Irã.

A Colômbia é um importante local de recrutamento para a indústria global de segurança, mas enfrenta questões sombrias: dois colombianos foram mortos e 18 foram presos por suposto envolvimento no assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, que ocorreu em julho de 2021.

No hospital militar, onde os soldados ucranianos feridos recebem cuidados, cerca de 50 combatentes colombianos passam a maior parte do tempo grudados em seus celulares: ligando para casa, navegando na internet e ouvindo música entre as refeições e os procedimentos médicos, especialmente por conta de ferimentos leves.

No início de 2022, autoridades de Kiev divulgaram que cerca de 20 mil pessoas de 52 países estavam na Ucrânia, inclusive brasileiros. Agora, embora não revelem números precisos, afirmam que o perfil dos combatentes mudou, mantendo em segredo quantos estão no campo de batalha.

Inicialmente, a maioria dos voluntários vinha de países pós-soviéticos ou de língua inglesa, o que facilitava sua integração ao Exército ucraniano, especialmente se falassem russo ou inglês. No último ano, o Exército estabeleceu uma infraestrutura com recrutadores, instrutores e oficiais operacionais que falam espanhol.

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