Tecnologia militar chinesa evoluiu tanto que o Ocidente não tem a perspectiva de equipará-la

Estudo de um think tank australiano diz que a China é líder global em mísseis hipersônicos, guerra eletrônica e nas principais capacidades submarinas

O avanço tecnológico das forças armadas da China é tamanho que as principais potências ocidentais, encabeçadas pelos Estados Unidos, talvez não sejam capazes de equipará-lo em um futuro próximo. É o que aponta um relatório do think tank Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI, na sigla em inglês), que foi divulgado nesta semana e teve informações reproduzidas pela rede Voice of America (VOA).

De acordo com o documento, Beijing é atualmente líder global em mísseis hipersônicos, guerra eletrônica e nas principais capacidades submarinas. “As lideranças da China são tão enfáticas que criam um risco significativo de que a China possa dominar futuras descobertas tecnológicas nessas áreas”, diz o ASPI.

A análise foi baseada em um 10% dos trabalhos de pesquisa mais citados do setor militar. A conclusão é de que as forças armada chinesas são atualmente líderes em 19 das 23 categorias analisadas, muitas delas com papel crucial no projeto chinês de domínio da região do Indo-Pacífico.

Soldados do Exército de Libertação Popular da China: evolução tecnológica notável (Foto: WikiCommons)

Por exemplo, nove dos dez mais importantes centros de pesquisa de hipersônicos estão em território chinês. Trata-se de um armamento de última geração que é capaz de viajar em até dez vezes a velocidade do som, rompendo mesmo os sistemas de defesa antiaérea mais modernos.

Nessa área, a China tem atualmente 73% de toda a pesquisa global de alto impacto, superando sozinha não apenas os EUA, mas a soma dos nove países que aparecem depois dela no ranking. No caso dos norte-americanos, seu Departamento de Defesa sequer tem mísseis hipersônicos em funcionamento, embora os esteja desenvolvendo.

Em março, Paul Freisthler, cientista-chefe da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, destacou o sucesso de Beijing. “Embora China e Rússia tenham realizado numerosos testes bem-sucedidos de armas hipersônicas e provavelmente tenham colocado em campo sistemas operacionais, a China está liderando a Rússia tanto no suporte à infraestrutura quanto no número de sistemas”, disse ele, segundo a VOA.

Freisthler acrescentou: “Nas últimas duas décadas, a China avançou dramaticamente em seu desenvolvimento de tecnologias e capacidades de mísseis hipersônicos convencionais e com armas nucleares por meio de investimento, desenvolvimento, teste e implantação intensos e focados.”

Já no setor de submarinos a China não tem concorrência, abrigando atualmente as dez instituições de pesquisa mais relevantes do mundo. Além disso, tem a maior marinha do planeta, à frente inclusive da norte-americana em número de embarcações, com dois porta-aviões ativos, um terceiro em construção e 360 navios Os EUA, por sua vez, têm 300 embarcações militares.

Beijing ostenta também o segundo maior orçamento de Defesa do mundo, tendo investido US$ 293 milhões no setor em 2021, segundo o site Statista. Somente os EUA gastaram mais, US$ 801 bilhões. Índia (US$ 76,6 bilhões), Reino Unido (US$ 68,4 bilhões) e Rússia (US$ 65,9 bilhões) aparecem a seguir.

O exército permanente chinês é igualmente dominante, com cerca de dois milhões de soldados, mais que qualquer outra nação. A Índia é a segunda maior força do tipo no mundo, com cerca de 1,4 milhão de tropas, contra 1,35 milhão dos EUA, de acordo com o site World Atlas.

Curiosamente, o domínio chinês conta com um impulso considerável dos rivais ocidentais. O estudo do ASPI indica que 14% dos autores chineses mais importantes, aqueles cujas pesquisas são citadas com maior frequência, são pós-graduados em país como Estados Unidos, Austrália ou Reino Unido. No caso de armas hipersônicas, essa porcentagem sobe para 20%, sendo de 18% no setor de guerra eletrônica.

A vantagem chinesa é tamanha que supera inclusive a combinação e norte-americanos, australianos e britânicos, que formaram o pacto de segurança AUKUS (sigla que agrega os nomes das três nações em inglês) justamente para conter o avanço de Beijing no Indo-Pacífico.

“O fato de que as três nações AUKUS ainda estão atrás da China em alguns campos, mesmo quando seus esforços são contabilizados, ressalta o valor do acordo de compartilhamento de tecnologia, cujo objetivo é acelerar o desenvolvimento tecnológico compartilhado, permitindo que os parceiros alavanquem os pontos fortes uns dos outros”, diz o relatório, que ainda recomenda a expansão do AUKUS com a incorporação do Japão.

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