Temperaturas elevadas desencadeiam surto de dengue e afetam milhões nas Américas e Caribe

Doença já atinge cerca de 129 países, colocando aproximadamente metade da população mundial em risco, segundo a Organização Mundial da Saúde

A dengue está atingindo níveis recordes na metade oeste do mundo, com mais de quatro milhões de casos relatados nas Américas e no Caribe neste ano, superando a marca de 2019. Especialistas alertam que o aumento das temperaturas e a rápida urbanização estão acelerando as infecções. As informações são da agência Associated Press.

Autoridades em diversas regiões, do Brasil às Bahamas, destacam hospitais e clínicas lotadas e aumento diário de novas infecções, com mais de duas mil mortes relatadas. Thais dos Santos, consultora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), afirma que 2023 teve o maior número registrado de casos de dengue desde o início dos relatórios em 1980, servindo como uma “sentinela do que está a acontecer com as mudanças climáticas“.

O aumento dos casos de dengue é atribuído à precariedade do saneamento e à falta de melhores sistemas de saúde. Especialistas destacam que as mudanças climáticas, incluindo secas e inundações, contribuem para a disseminação do vírus, com mosquitos atraídos por água armazenada e chuvas intensas.

Gabriela Paz-Bailey, do Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) em Porto Rico, aponta que temperaturas mais altas expandem o habitat do mosquito, acelerando o desenvolvimento do vírus.

Membros da equipe de prevenção da dengue verificam amostra de água em busca de larvas do Aedes aegypti em Niterói, Rio de Janeiro (Foto: Vaccines at Sanofi/Flickr)

Outro especialista ouvido pela reportagem, Jeremy Farrar, cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (MS), destaca as complicações crescentes devido às mudanças climáticas e urbanização, e vê essas doenças tornarem-se “cada vez mais frequentes e cada vez mais complexas”. Já Thais observa novas tendências, como temperaturas recordes e propagação da dengue em regiões não tradicionais, citando casos na Califórnia e na Flórida.

O verão no Hemisfério Norte deste ano registrou temperaturas recordes, sendo agosto 1,5 graus mais quente do que as médias pré-industriais. Segundo o serviço climático europeu Copernicus, 2023 é o segundo ano mais quente já registrado. Nesse contexto, mais de 4,5 milhões de casos de dengue foram notificados até novembro, resultando em quatro mil mortes em 80 países.

Fenômeno global

Especialistas, incluindo Farrar, sugerem que o recorde global de 2019, com 5,2 milhões de casos, pode ser superado este ano. “A dengue, antes uma preocupação das Américas, tornou-se um fenômeno global”, disse ele. Nesse contexto, países como Bangladesh registram números recordes, com mais de 313,7 mil casos e 1,6 mil mortes, principalmente ocorrendo dentro de três dias após a hospitalização.

O mosquito transmissor da dengue foi identificado em 22 países europeus, com casos locais em França, Itália e Espanha. Em agosto, o Chade, na África Central, registrou seu primeiro surto da doença. A doença já atinge cerca de 129 países, colocando aproximadamente metade da população mundial em risco, conforme informações da OMS.

No início deste ano, as Américas estabeleceram um novo recorde regional de casos de dengue, liderado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Peru. Diante desse cenário, o Peru declarou estado de emergência em determinadas regiões após registrar um número histórico de casos.

A dengue, alertada como uma ameaça pandêmica pela OMS em janeiro, é a doença transmitida por mosquitos que se dissemina mais rapidamente no mundo. Embora existam vacinas e abordagens inovadoras, como o uso de mosquitos com Wolbachia, não há tratamento específico para a infecção viral. A Organização Pan-Americana da Saúde está discutindo vacinas contra a dengue, com recomendações a serem publicadas em breve.

Para combater o vírus transmitido pelo Aedes aegypti no Caribe, caminhões percorrem a Jamaica, Barbados e outras ilhas, nebulizando áreas com um produto contendo pequenas quantidades de inseticida.

Por que isso importa?

O mosquito é conhecido por transmitir doenças como, além da dengue, zika e chikungunya, tornando essas precauções essenciais para prevenir a propagação dessas enfermidades.

Autoridades de saúde destacam a importância de eliminar criadouros, como pneus e recipientes, e incentivam o uso de repelentes, roupas de manga longa e mosquiteiros. Essas medidas, aliadas a métodos de controle de vetores, são essenciais para proteger comunidades e conter a propagação dessas enfermidades.

Os sintomas da dengue incluem febre alta, dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas e erupções cutâneas. Em casos mais graves, pode levar a complicações como a dengue grave, caracterizada por hemorragias, choque e órgãos comprometidos.

O índice de fatalidade da dengue varia. Geralmente, a maioria dos casos é leve, mas a dengue grave pode ser fatal. A gravidade e o índice de fatalidade dependem de diversos fatores, incluindo a qualidade dos cuidados médicos recebidos, o tipo de vírus da dengue envolvido e a saúde geral do paciente.

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