Ação agressiva da China tem resposta armada das Filipinas e eleva tensão em área disputada

Manila admite que soldados ergueram suas armas quando embarcações da China se aproximaram demais de uma base militar

Soldados das Filipinas ergueram suas armas em resposta a uma ação ousada da China diante de uma base militar no Mar da China Meridional, uma área que é alvo de disputa entre vários países. O episódio, que elevou ainda mais as tensões na região, ocorreu no dia 19 de maio, mas somente agora os detalhes foram revelados, segundo a agência Reuters.

Embarcações da Guarda Costeira chinesa voltaram a assediar uma missão de reabastecimento de Manila, cujo objetivo é levar suprimentos a uma base militar improvisada em um banco de areia reivindicado pelo governo filipino e batizado de Second Thomas Shoal.

O posto militar nada mais é que um antigo navio encalhado e ocupado por militares filipinos. A China, como parte de sua reivindicação territorial nas Ilhas Spratly, constantemente pede a Manila que remova a embarcação. Como os pedidos não são atendidos, passou a assediar as missões de reabastecimento.

Navio da guarda costeira chinesa próximo a embarcação filipina (Foto: Philippine Coast Guard/Facebook)

Foi a televisão estatal da China que revelou o mais recente momento de tensão, que no passado teve jatos d’água disparados por navios chineses e algumas colisões entre embarcações dos dois países. Desta vez, de acordo com a rede CCTV, os soldados filipinos chegaram a apontar armas em direção a dois barcos enviados por Beijing.

O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas das Filipinas, Romeo Brawner, confirmou a ocorrência, mas diz que o relato chinês é impreciso. “Foi apenas uma preparação para autodefesa caso algo acontecesse, porque eles estavam muito próximos”, disse o oficial, descrevendo as ações da Guarda Costeira rival como “provocativas”.

Manila alega que os barcos chineses chegaram muito perto da base filipina, cerca de cinco a dez metros de distância. E que se apossaram de alguns dos suprimentos jogados por via aérea para o uso dos militares instalados em Second Thomas Shoal.

“Isso foi motivo de alarme. Então, nossos soldados, como medida de precaução, ergueram suas armas de fogo. Faz parte das regras de combate”, disse Brawner. “Negamos que qualquer um de nossos soldados tenha apontado deliberadamente suas armas para qualquer um dos chineses. Mas não negaremos o fato de que eles estavam armados.”

Em resposta, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, classificou a ação filipina como “ilegal” e afirmou que a atitude dos soldados foi “provocativa” e que ela “agrava a situação.”

Por que isso importa?

Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas. 

Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação.”

Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo John C. Aquilino, almirante da Marinha dos Estados Unidos e chefe do Comando Indo-Pacífico, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo.”

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

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