Acusado de espionagem, blogueiro australiano é condenado à morte na China

Como a sentença foi suspensa, Yang Hengjun tende a ser poupado da execução, possivelmente cumprindo prisão perpétua

O Judiciário da China anunciou nesta segunda-feira (5) a sentença imposta ao blogueiro Yang Hengjun, que tem cidadania australiana e está preso no país asiático desde 2019. Ele foi condenado à morte, mas teve a pena imediatamente suspensa, o que significa que não deve ser executado. Em vez disso, cumpriria pena de prisão perpétua, segundo informações da agência Reuters.

Yang, nascido em território chinês, é ex-diplomata e ex-agente de segurança estatal a serviço de Beijing. Ele migrou para o setor privado em Hong Kong, recebeu a cidadania australiana em 2022 e passou a escrever sobre questões políticas, com foco sobretudo na China e nos EUA. Também é autor de uma série de livros de espionagem.

O autor foi preso em janeiro de 2019 no aeroporto de Guangzhou, na China. À época, vivia em Nova York e foi acusado por Beijing de espionagem para um governo estrangeiro, embora o país ao qual servia nunca tenha sido citado, enquanto as acusações contra ele sempre foram mantidas sob sigilo.

Yang Hengjun, blogueiro australiano preso na China (Foto: reprodução/Twitter)

Como é habitual na China, o julgamento ocorreu a portas fechadas, apesar de o governo alegar que a diplomacia australiana foi autorizada a participar da leitura da sentença. Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, disse que Yang foi “condenado à morte com dois anos de liberdade condicional, sendo determinado que todas as suas propriedades pessoais sejam confiscadas.”

Do lado a australiano, a chefe da diplomacia, Penny Wong, se disse “horrorizada” com a decisão. Segundo ela, a pena suspensa significa que a execução não será realizada no prazo de dois anos. Se até lá o réu não cometer nenhuma outra irregularidade, deve ter a sentença comutada para prisão perpétua.

“Esta é uma notícia angustiante para o Dr. Yang, sua família e todos que o apoiaram”, disse a ministra. Já os familiares do blogueiro falaram através de um porta-voz e se disseram “chocados e devastados com esta notícia, que chega no extremo das piores expectativas.”

Os parentes de Yang ainda manifestaram preocupação com a saúde dele. Alegam que foi identificado um cisto no rim que exige cirurgia, o que seria suficiente para assegurar uma libertação médica condicional não atendida pela China.

Crise diplomática

A relação entre Austrália e China atravessa uma fase complicada, tendo começado a se deteriorar em 2018. À época, Camberra proibiu a Huawei de fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G, citando riscos de interferência estrangeira. A situação piorou em 2020, quando a Austrália pediu uma investigação independente sobre a origem do coronavírus em Wuhan, o que despertou a ira da China.

A resposta chinesa veio em forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada, além de importações limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas. Os Estados Unidos definiram o movimento como “coação econômica”.

A relação vinha se reaquecendo nos últimos meses, por iniciativa do primeiro-ministro Anthony Albanese, o primeiro líder australiano a visitar a China desde 2016. Porém, a sentença contra Yang tende a frear os avanços diplomáticos.

“Esta decisão torna extremamente difícil para o governo de Albanese fazê-lo em termos de gestão da política interna. A linguagem forte já utilizada pela ministra das Relações Exteriores deixa clara a sua decepção”, analisou James Laurenceson, diretor do Instituto de Relações Austrália-China da Universidade de Tecnologia de Sydney.

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