Chineses relatam demissões e assédio de autoridades após protesto contra bancos

Cidadãos protestaram após terem o dinheiro de suas contas bancárias bloqueado. Agora, dizem estar sob vigilância policial

Ferida no domingo (10), durante violenta ação policial contra uma multidão de manifestantes insatisfeitos com o congelamento de saques bancários na província de Henan, uma cidadã chinesa disse que continua a sofrer assédio das autoridades. Segundo ela, seu endereço residencial foi descoberto, e há agentes do governo vigiando o prédio onde mora. Outras pessoas também relatam perseguição após os atos do fim de semana, segundo informações da agência Reuters.

Identificada apenas pelo sobrenome Geng, a mulher, de 32 anos, que ainda exibe hematomas pelo corpo após ser agredida com chutes por policiais da cidade de Zhengzhou, contou que foi acordada na manhã desta terça-feira (12) por batidas fortes em sua porta. Segundo ela, eram homens suspeitos de servir ao governo e que alegaram estar ali para informá-la sobre um vazamento de água no apartamento.

“Não sei como eles me encontraram. Vieram à minha casa, mas está sob o nome da minha mãe”, disse Geng.

Protesto contra banco na China em julho de 2022 (Foto: Twitter/Reprodução)

Ela contou que ameaçou pular pela janela caso os homens tentassem entrar. Depois, se escondeu no quarto durante três horas, enquanto os dois supostos agentes, vestidos de preto e que ela não conseguiu identificar, vigiavam do lado de fora do condomínio antes que ela conseguisse sair por uma escada alternativa.

Segundo ela, a intenção da polícia é ter acesso aos telefones do manifestantes para buscar registros das manifestações. “Querem pegar os vídeos e as provas”, disse Geng, que junto com sua mãe tem 110 mil yuans (US$ 16.354) depositados em um dos bancos que bloquearam as contas.

Desde abril, quatro bancos rurais da província congelaram o equivalente a US$ 1,5 bilhão em depósitos, colocando centenas de milhares de chineses contra a parede numa atmosfera econômica fragilizada pelas barreiras sanitárias da política de Covid Zero.

Empregos a perigo

Outros clientes envolvidos na manifestação também relataram assédio. Ouvidos pela reportagem, eles contam que a polícia, funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) e empregadores nas áreas rurais têm feito visitas nas últimas semanas, pressionando para que não participem de manifestações, sob pena de ficarem desempregados.

Outros dois clientes levados sob custódia após a violenta repressão policial de domingo revelaram que tiveram de assinar garantias, comprometendo-se a não protestar. Um servidor público que atuava no departamento de finanças do governo foi forçado a renunciar ao cargo depois que suas intenções de ir às ruas participar da manifestação vieram à tona.

Pelo menos 413 mil pessoas ficaram impossibilitadas de ter acesso ao próprio dinheiro em razão do congelamento dos saques decretado após autoridades terem anunciado uma investigação policial maciça sobre o empresário Lu Yi e seu Henan New Fortune Group.

Autoridades do Departamento de Segurança Pública de Xuchang, em Henan alegam que a investigação está “progredindo de maneira ordenada”, segundo o jornal South China Morning Post. Vários cúmplices em um esquema planejado por Yi teriam sido presos.

Nesta semana, o regulador bancário da China disse que as províncias de Henan e Anhui começarão a reembolsar parte dos fundos aos clientes com economias de menos de 50 mil yuans (US$ 7,4 mil).

Repressão

Protestar não é tarefa fácil na China, e não é só a polícia que está de olho. Para coibir ações do gênero, Beijing lançou no mês passado um canal para estimular os cidadãos a denunciarem pessoas que “ameaçam a segurança nacional”. A medida, criada pelo Ministério da Segurança do Estado, promete recompensas financeiras a quem dedurar críticos ao PCC, opositores políticos, organizações pacíficas e indivíduos que arrecadam fundos no exterior.

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