Ferida no domingo (10), durante violenta ação policial contra uma multidão de manifestantes insatisfeitos com o congelamento de saques bancários na província de Henan, uma cidadã chinesa disse que continua a sofrer assédio das autoridades. Segundo ela, seu endereço residencial foi descoberto, e há agentes do governo vigiando o prédio onde mora. Outras pessoas também relatam perseguição após os atos do fim de semana, segundo informações da agência Reuters.
Identificada apenas pelo sobrenome Geng, a mulher, de 32 anos, que ainda exibe hematomas pelo corpo após ser agredida com chutes por policiais da cidade de Zhengzhou, contou que foi acordada na manhã desta terça-feira (12) por batidas fortes em sua porta. Segundo ela, eram homens suspeitos de servir ao governo e que alegaram estar ali para informá-la sobre um vazamento de água no apartamento.
“Não sei como eles me encontraram. Vieram à minha casa, mas está sob o nome da minha mãe”, disse Geng.
Ela contou que ameaçou pular pela janela caso os homens tentassem entrar. Depois, se escondeu no quarto durante três horas, enquanto os dois supostos agentes, vestidos de preto e que ela não conseguiu identificar, vigiavam do lado de fora do condomínio antes que ela conseguisse sair por uma escada alternativa.
Segundo ela, a intenção da polícia é ter acesso aos telefones do manifestantes para buscar registros das manifestações. “Querem pegar os vídeos e as provas”, disse Geng, que junto com sua mãe tem 110 mil yuans (US$ 16.354) depositados em um dos bancos que bloquearam as contas.
Desde abril, quatro bancos rurais da província congelaram o equivalente a US$ 1,5 bilhão em depósitos, colocando centenas de milhares de chineses contra a parede numa atmosfera econômica fragilizada pelas barreiras sanitárias da política de Covid Zero.
Empregos a perigo
Outros clientes envolvidos na manifestação também relataram assédio. Ouvidos pela reportagem, eles contam que a polícia, funcionários do Partido Comunista Chinês (PCC) e empregadores nas áreas rurais têm feito visitas nas últimas semanas, pressionando para que não participem de manifestações, sob pena de ficarem desempregados.
Outros dois clientes levados sob custódia após a violenta repressão policial de domingo revelaram que tiveram de assinar garantias, comprometendo-se a não protestar. Um servidor público que atuava no departamento de finanças do governo foi forçado a renunciar ao cargo depois que suas intenções de ir às ruas participar da manifestação vieram à tona.
Pelo menos 413 mil pessoas ficaram impossibilitadas de ter acesso ao próprio dinheiro em razão do congelamento dos saques decretado após autoridades terem anunciado uma investigação policial maciça sobre o empresário Lu Yi e seu Henan New Fortune Group.
Autoridades do Departamento de Segurança Pública de Xuchang, em Henan alegam que a investigação está “progredindo de maneira ordenada”, segundo o jornal South China Morning Post. Vários cúmplices em um esquema planejado por Yi teriam sido presos.
Nesta semana, o regulador bancário da China disse que as províncias de Henan e Anhui começarão a reembolsar parte dos fundos aos clientes com economias de menos de 50 mil yuans (US$ 7,4 mil).
Repressão
Protestar não é tarefa fácil na China, e não é só a polícia que está de olho. Para coibir ações do gênero, Beijing lançou no mês passado um canal para estimular os cidadãos a denunciarem pessoas que “ameaçam a segurança nacional”. A medida, criada pelo Ministério da Segurança do Estado, promete recompensas financeiras a quem dedurar críticos ao PCC, opositores políticos, organizações pacíficas e indivíduos que arrecadam fundos no exterior.