Atentado no Paquistão mata um cidadão chinês e deixa outros dois feridos

Suspeita é de que o ataque seja obra de separatistas do Baluchistão, que contestam a forte influência da China no país

Um cidadão chinês morreu baleado e outros dois ficaram feridos em um ataque realizado na quarta-feira (28) em Karachi, a cidade mais populosa do Paquistão. As informações são do site Gandhara.

A ação ocorreu dentro de uma clínica dentária da cidade portuária. Um homem armado se fez passar por paciente, invadiu o local e atirou. De acordo com a polícia, as três vítimas têm nacionalidade paquistanesa e vivem no país há cerca de 30 anos, mas todas nasceram na China.

Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria do ataque, especula-se que tenha sido realizado por separatistas baluchis, que lutam pela independência do Baluchistão e contestam a forte influência chinesa na região.

Em abril deste ano, outros três cidadãos chineses haviam sido mortos em um ataque reivindicado pelo Exército de Libertação Balúchi (ELB), um dos muitos grupos separatistas de lá.

Na ocasião, uma explosão atingiu uma van que transportava integrantes do Instituto Confúcio, um centro cultural que também serve como escola de línguas para ensinar o mandarim e que é ligado ao Ministério da Educação da China. Além dos chineses, morreu também o motorista do veículo, que era paquistanês. Uma mulher foi a responsável por carregar e detonar o explosivo.

Sadar Bazaar, movimentado espaço de comerciantes locais em Karachi (Foto: WikiCommons)

Por que isso importa?

Cidadãos chineses têm sido regularmente alvo de separatistas baluchis. A rejeição à China está atrelada à relação comercial entre Beijing e Islamabad, que inclui uma série de projetos de infraestrutura chineses no Baluchistão, inseridos na Nova Rota da Seda.

O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos baluchis, um povo muçulmano essencialmente sunita que é originário do Irã e habita a área.

A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão.

A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas sem melhorar as condições da população local.

Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de rodovias e ferrovias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.

Os baluchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas locais.

O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o Exército de Libertação Balúchi (ELB), que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (BLF) é outra organização de forte presença na região.

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