Um ataque a bomba realizado por uma mulher ligada a um grupo separatista do Baluchistão matou quatro pessoas no Paquistão, nesta terça-feira (26), perto da Universidade de Karachi. Entre as vítimas estão três cidadãos chineses, de acordo com o jornal britânico Guardian.
O atentado foi reivindicado pelo Exército de Libertação Balúchi (ELB), um dos muitos grupos separatistas que lutam pela independência do Baluchistão, a maior das províncias paquistanesas. De acordo com o grupo, esta é a primeira vez que uma mulher-bomba foi usada em uma ação.
“O Exército de Libertação Balúchi aceita a responsabilidade pelo ataque abnegado de hoje”, disse o porta-voz do grupo, Jeeyand Baluchi, em comunicado publicado em inglês no aplicativo de mensagens Telegram.
A explosão atingiu uma van que transportava integrantes do Instituto Confúcio, um centro cultural que também serve como escola de línguas para ensinar o mandarim e que é afiliado ao Ministério da Educação da China. Além dos chineses, morreu também o motorista do veículo.
Cidadãos chineses têm sido regularmente alvo dos separatistas devido à relação comercial entre Beijing e Islamabad, que inclui uma série de projetos de infraestrutura chineses no Baluchistão, inseridos na iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda.
Por que isso importa?
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos baluchi, um povo muçulmano essencialmente sunita que é originário do Irã e habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão.
A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.
Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras de rodovias e ferrovias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.
Os baluchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.
O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o Exército de Libertação Baluchi (ELB), que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (BLF) é outra organização de forte presença na região.