Beijing acusa inteligência estrangeira de cooptar chineses em busca de segredos tecnológicos

Governo devolve uma acusação frequente dos aliados ocidentais, que aumentaram a repressão à espionagem industrial chinesa

O Ministério da Segurança do Estado da China publicou nesta sexta-feira (10) um comunicado alertando seus cidadãos para a atuação dos serviços de inteligência estrangeiros em busca de segredos industriais no setor de alta tecnologia. O texto diz que chineses têm sido cooptados no exterior para que repassem informações a agências de espionagem de países hostis, segundo o jornal South China Morning Post.

A mensagem, divulgada através do WeChat pela principal agência de inteligência do país asiático, afirma que o alvo dos espiões estrangeiros são cidadãos chineses que servem a empresas do país no exterior.

O comunicado também descreve como costuma funcionar a abordagem, que começa com um “encontro casual” e amigável. Então, uma relação pessoal é iniciada entre os espiões estrangeiros e o alvo, até que este baixe a guarda. Os chineses, então, são enganados ou ameaçados para que repassem segredos.

Xi Jinping, presidente da China: luta contra a espionagem estrangeira (Foto: divulgação/cpc.people.com.cn)

“Eles devem ficar atentos às motivações que os outros podem ter quando fazem amigos, ter uma forte consciência para guardar segredos e resistir às tentações”, diz o Ministério.

Caçar espiões estrangeiros tornou-se uma obsessão do governo da China sob o regime de Xi Jinping. Em julho do ano passado, Beijing implementou uma nova lei de relações exteriores que amplia a definição de espionagem, fornecendo uma base legal para punir indivíduos e organizações que representem uma ameaça aos interesses chineses.

Mais tarde, em outubro, o governo da China acusou um pesquisador local da área de defesa de ter sido recrutado pela inteligência dos EUA para atuar como informante durante o período em que atuou como professor visitante em território norte-americano há dez anos.

A atividade do suposto espião, identificado como Hou, teria ocorrido em uma unidade industrial militar e de defesa. Segundo a imprensa estatal chinesa, este teria sido o quarto caso de espionagem industrial estrangeira identificado pelas forças de segurança locais em um intervalo de apenas três meses.

Hou teria trabalhado em um instituto de defesa chinês não identificado e depois viajado em 2013 para os Estados Unidos, onde atuou como professor visitante em janeiro daquele ano em uma universidade não citada. O roteiro é idêntico ao divulgado através do WeChat pelo governo nesta sexta.

Seduzido por um agente norte-americano, o pesquisador teria sido convencido a entregar segredos comerciais em troca de dinheiro, mesmo após retornar à China. Ele enfrenta acusações de enviar aos Estados Unidos dois documentos ultrassecretos, três confidenciais e seis secretos a partir de 2013, causando “danos graves” à segurança nacional e aos interesses da nação.

A ação dos espiões chineses

O roubo de segredos industriais, entretanto, costuma ser uma denúncia inversa, que quase sempre pesa contra a China. Recentemente, uma série de casos envolvendo agentes a serviço de Beijing foram expostos, tendo como alvo na maioria dos casos empresas dos EUA. Isso levou as nações ocidentais, sob a liderança de Washington, a aumentar a repressão a esse tipo de espionagem.

A espionagem comercial viabiliza um rápido avanço nas cadeias globais de valor sem os custos de desenvolvimento. Christopher Wray, diretor do FBI, a polícia federal dos EUA, alertou em 2022 que Beijing busca “saquear” propriedade intelectual para acelerar seu próprio desenvolvimento industrial, com empresas de todos os portes e setores sendo alvo, incluindo aviação e inteligência artificial.

Em outubro do ano passado, durante encontro realizado no Vale do Silício, no estado norte-americano da Califórnia, os chefes de inteligência de EUA, Reino UnidoCanadáAustrália e Nova Zelândia acusaram a China de roubo de propriedade intelectual em uma escala inédita, segundo a rede Voice of America.

Mike Burgess, diretor-geral da ASIO, agência de inteligência da Austrália, afirmou que o comportamento da China vai além da espionagem tradicional, envolvendo o governo chinês em “roubo sustentado e sofisticado de propriedade intelectual”. Ele destacou que a espionagem industrial chinesa foi aprovada pelo governo ao longo de muitos anos, representando “uma ameaça sem precedentes”.

Burgess ainda observou que “todas as nações espionam”, mas expressou preocupação com a estratégia atual do governo chinês. Ele destacou que Beijing está envolvida em um nível alarmante de roubo de propriedade intelectual em termos de escala e sofisticação.

Tags: