Celebridades taiwanesas se posicionam a favor da unificação da ilha com a China

Mais de 70 figuras públicas repostaram publicação da mídia estatal chinesa segundo a qual a independência é 'um beco sem saída'

Dezenas de artistas e personalidades taiwanesas mostraram apoio à reivindicação territorial de Beijing sobre Taiwan, alinhando-se ideologicamente ao Estado chinês nas redes sociais. Isso ficou claro após eles republicarem uma postagem da mídia estatal chinesa que promove a “unificação” do território semiautônomo com a China. As informações foram divulgadas pela Radio Free Asia.

Mais de 70 celebridades, incluindo a jornalista Patty Hou, a cantora e atriz Nana Ouyang e a apresentadora de TV e atriz Dee Hsu, “retuitaram” uma declaração da emissora estatal chinesa CCTV na plataforma de mídia social Weibo, semelhante ao X, antigo Twitter. A declaração afirmava que a independência de Taiwan, que nunca foi governada por Beijing, era “um beco sem saída”.

“A unificação de Taiwan com a China não pode ser interrompida”, declarou a CCTV na postagem feita na última quarta-feira (22), em resposta ao discurso de posse do presidente eleito de Taiwan, Lai Ching-te, que pediu a Beijing para parar de ameaçar Taiwan e respeitar a vontade de seus 23 milhões de habitantes, que majoritariamente não desejam ser governados pelo Partido Comunista Chinês (PCC).

A musicista taiwanesa Nana Ouyang (Foto: WikiCommons)

A publicação ainda afirmava que “Taiwan nunca foi um país e nunca se tornará um” e que “a independência é um beco sem saída. A unificação com a pátria mãe é imparável”.

Apesar das manifestações, o prefeito de Taipé, Chiang Wanan, assegurou que não haveria repercussões para os artistas taiwaneses que apoiaram a reivindicação de Beijing sobre a ilha. Ele afirmou: “Somos um país livre e democrático, e Taipé é uma cidade diversificada e aberta, então como podemos impedi-los de atuar?”.

Já Chen Chi-mai, prefeito de Kaohsiung, terceira cidade mais populosa de Taiwan, criticou a China por coagir artistas taiwaneses a tomarem uma posição política, enquanto o partido Kuomintang (KMT) afirmou que pressionar artistas não ajudaria nas relações através do Estreito de Taiwan.

O Ministério da Cultura da ilha semiautônoma, por sua vez, destacou que os artistas foram forçados a agir por “circunstâncias inevitáveis” e que tal coerção “não ocorreria em uma Taiwan democrática”.

Artistas contrários

Apesar disso, essas celebridades representam uma minoria dentro do cenário artístico e da sociedade taiwanesa em geral. A maioria dos taiwaneses apoia a independência da ilha e vê a China como uma ameaça à sua autonomia e cultura.

Uma famosa atriz taiwanesa, Yang Hsiu-hui, declarou aos repórteres no domingo que se identifica como taiwanesa e não deseja ganhar dinheiro na China.

“Algumas pessoas me disseram que eu perderia o acesso ao mercado na China continental”, afirmou Yang, acrescentando que recusou trabalhos na China por motivos políticos. “Desisti desse mercado há muito tempo”, completou.

Saiba quem são outras celebridades taiwanesas que têm se posicionado sobre a reivindicação chinesa sobre Taiwan:

Jay Chou é um cantor, compositor e ator extremamente popular em Taiwan e na China. Embora geralmente evite se envolver em questões políticas, ele ocasionalmente expressa seu apoio à cultura e identidade taiwanesas.

Angela Chang é uma renomada cantora e atriz taiwanesa. Ela costuma evitar tópicos políticos, mas é amplamente reconhecida por seu patriotismo e amor por Taiwan.

Eddie Peng é um ator e cantor taiwanês que tem uma base de fãs tanto em Taiwan quanto na China continental. Ele já expressou seu apoio à democracia e à liberdade em Taiwan, equilibrando sua popularidade entre os dois lados.

Ko Chen-tung é um ator taiwanês que também tem se pronunciado sobre a identidade taiwanesa. Ele destaca a importância de preservar a cultura local e já expressou suas opiniões sobre a necessidade de manter a singularidade cultural de Taiwan.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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