China ameaça a liberdade de expressão global, segundo relatório do governo dos EUA

Documento destaca campanhas de propaganda, desinformação e censura voltadas a influenciar a opinião pública e governos de todo o mundo

A China investe anualmente bilhões de dólares em campanhas de propaganda, desinformação e censura, a fim de estabelecer um sistema de controle da informação que, se não for combatido, pode levar a uma “contração acentuada da liberdade de expressão global.” Tal análise consta de um relatório publicado na quinta-feira (28) pelo Departamento de Estado norte-americano.

“A RPC (República Popular da China) suprime informações críticas que contradizem as narrativas desejadas sobre questões como Taiwan, suas práticas de direitos humanos, o Mar da China Meridional, sua economia interna e o envolvimento econômico internacional”, diz o documento,

Paralelamente, Beijing atua para que “governos estrangeiros, elites, jornalistas e sociedade civil aceitem suas narrativas preferidas e evitem criticar sua conduta.”

Conteúdo online sofre forte censura por parte do regime chinês (Foto: WikiCommons)

Para atingir seus objetivos, o governo chinês adquiriu participações em meios de comunicação estrangeiros, patrocinou influenciadores, firmou acordos de compartilhamento de conteúdo de seu interesse e cooptou “vozes proeminentes no ambiente de informação internacional, tais como elites políticas estrangeiras e jornalistas.”

Outra estratégia bastante comum é a intimidação online e presencial, que visa a silenciar os dissidentes e encorajar a autocensura. Muitas vezes, ações judiciais são usadas para suprimir vozes críticas. Há ainda o caso do WeChat, aplicativo com forte presença da comunidade de língua chinesa, onde Beijing “exerceu censura técnica e assediou produtores de conteúdos individuais.”

“A RPC promove o autoritarismo digital, que envolve a utilização de infraestruturas digitais para reprimir a liberdade de expressão, censurar notícias independentes, promover a desinformação e negar outros direitos humanos”, segundo o Departamento de Estado.

Os principais alvos do governo chinês estão na África, na Ásia e na América Latina, onde governos são inclusive levados a adotar métodos semelhantes. Em consequência, nesses países, os ecossistemas de informação se tornam “mais receptivos à propaganda, à desinformação e aos pedidos de censura.”

“Se não forem controlados, os esforços de Beijing poderão resultar em um futuro em que a tecnologia exportada pela RPC, os governos locais cooptados e o medo da retaliação direta de Beijing produzirão uma contração acentuada da liberdade de expressão global”, diz o relatório.

O documento acrescenta que, nos países em desenvolvimento, as campanhas ocultas de propaganda, desinformação e censura tendem a criar um ambiente no qual a China controle todo o conteúdo impresso e digital que a população dessas nações consome.

O que mais preocupa Washington é que o sucesso desse sistema de controle da informação permitiria à China “influenciar decisões econômicas e de segurança a seu favor”, com potencial para comprometer as alianças firmadas pelo governo dos Estados Unidos com as nações-alvo.

Apesar da projeção pessimista, quase catastrófica, o documento afirma que nem todos os governos estão ao alcance do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Embora apoiada por recursos sem precedentes, a propaganda e a censura da RPC produziram, até esta data, resultados mistos”, diz o texto. “Ao visar os países democráticos, Beijing encontrou grandes reveses, muitas vezes devido à resistência dos meios de comunicação locais e da sociedade civil.” 

Resposta chinesa

Questionado pela rede Voice of America (VOA), o governo chinês respondeu através de Liu Pengyu, porta-voz da embaixada chinesa nos Estados Unidos. Ele devolveu as acusações, dizendo que o relatório é “apenas mais uma ferramenta para manter a China sob controle e reforçar a hegemonia americana”.

“Uma rápida olhada no resumo é suficiente para saber do que se trata: intensificar o confronto ideológico, espalhar desinformação e difamar as políticas internas e externas da China”, disse Liu. “Pedimos aos EUA que reflitam sobre si mesmos e parem de enquadrar a China na chamada ‘manipulação de informação’.”

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