Enviados da ONU acusam o governo da China de separar crianças de suas famílias em Xinjiang

Relatório diz que menores são enviados a internatos e outros estabelecimentos, onde sofrem assimilação cultural forçada

Assimilação cultural forçada, internação de crianças sem autorização e menores que foram separados de seus familiares. Esses são alguns dos abusos cometidos pela China contra os uigures e outras minorias étnicas muçulmanas da região de Xinjiang, segundo relatório assinado por especialistas designados pela ONU (Organização das Nações Unidas) que foi divulgado na terça-feira (26).

“Estamos profundamente preocupados com o fato de os internatos em Xinjiang ensinarem quase exclusivamente na língua oficial, com pouco ou nenhum uso do uigur como meio de instrução, e com o fato de a separação das suas famílias, principalmente das crianças uigures e de outras minorias, poder levar à sua assimilação forçada na língua maioritária mandarim e a adoção de práticas culturais han”, diz o documento.

Mercado muçulmano em Xinjiang, frequentado pela minoria uigur (Foto: Maxpixel/Divulgação)

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, etnia que representa 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang, os indícios não param de surgir.

Segundo os especialistas da ONU, há evidências de que crianças, principalmente uigures e muitas delas bastante jovens, são retiradas de famílias cujos parentes estão no exílio ou sob o poder de Beijing, em campos de internação ou prisões.

“Estas crianças são tratadas como órfãs pelas autoridades estatais e colocadas em internatos, pré-escolas ou orfanatos em tempo inteiro, onde a língua utilizada é quase exclusivamente o mandarim”, afirma o relatório. “Isto conduzirá inevitavelmente a uma perda de ligação com as suas famílias e comunidades e minará os seus laços com as suas identidades culturais, religiosas e linguísticas.”

O documento destaca que não são apenas os uigures que sofrem com tais medidas abusivas do governo chinês. E conclui que “a enorme escala das alegações levanta preocupações extremamente sérias sobre violações dos direitos humanos básicos.”

Denúncias de genocídio

Em agosto de 2022, a ONU divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

O relatório, porém, não citou a palavra “genocídio” usada por alguns países ocidentais. O governo do presidente Joe Biden, dos EUA, foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e a Lituânia se juntou ao grupo mais recentemente.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país.

Beijing costuma classificar as denúncias como “a mentira do século” e diz que os campos de reeducação, para onde muitos uigures eram enviados, foram desativados.

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