China apreende barco de pesca com cinco tripulantes e aumenta tensão com Taiwan

Conforme avança a crise entre os dois governos, endurece também a atuação contra embarcações pesqueiras no Estreito de Taiwan

Um barco de pesca de Taiwan, com cinco tripulantes a bordo, foi apreendido na noite de terça-feira (2), no horário local, pela Guarda Costeira da China, ocorrência que representa uma escalada de tensão em meio às reivindicações cada vez mais incisivas de soberania de Beijing em relação à ilha autogovernada. As informações são da rede BBC.

De acordo com as autoridades chinesas, a embarcação invadiu as aguas territoriais do país e não respeitou a moratória de pesca na região, imposta por Beijing entre maio e agosto sob o argumento da sustentabilidade.

“O navio pesqueiro violou os regulamentos de moratória da pesca e pescou ilegalmente dentro da área proibida”, disse Liu Dejun, porta-voz da Guarda Costeira da China, acrescentando que os pescadores usavam equipamento inadequada que pode “danificar os recursos pesqueiros marinhos.”

Navio da Guarda Costeira chinesa: ações mais agressivas (Foto: Philippine Coast Guard/Facebook)

Segundo Taipé, a apreensão de fato ocorreu em águas chinesas e foi marcada por um breve momento de tensão, quando três embarcações taiwanesas partiram em socorro ao pesqueiro e confrontaram os dois navios chineses responsáveis pela apreensão.

China e Taiwan têm por hábito relevar a atuação de pesqueiros em águas alheias, aplicando as leis de forma menos rigorosa devido à proximidade entre os territórios. Entretanto, nos últimos anos, conforme a ilha intensifica a reivindicação de soberania e Beijing reforça a alegação de que tem controle sobre o território, a situação vem mudado.

As autoridades taiwanesas alegam que a pesca ilegal realizada pelos chineses aumentou bastante, por isso passaram a adotar mais rigidez no patrulhamento. A resposta veio na mesma moeda, com uma atuação mais agressiva da Guarda Costeira da China.

“Neste ano, a China está diferente do passado, com uma aplicação mais forte da lei durante a moratória da pesca”, disse Hsieh Ching-chin, porta-voz da Guarda Costeira de Taiwan, citado pelo jornal The New York Times. Ainda segundo ele, a China apreendeu 17 barcos de pesca taiwaneses desde 2003, sendo que o último incidente desse tipo havia ocorrido em 2007.

Hsieh também instou Beijing a libertar o barco e seus tripulantes, dois taiwaneses e três indonésios, sob o argumento de que são tratados como peões na disputa mais ampla entre os dois governos. “A China não deveria usar fatores políticos para lidar com esse incidente”, declarou o porta-voz.

Por parte de Beijing, a repressão à atuação de pesqueiros estrangeiros não se restringe ao Estreito de Taiwan. Embates semelhantes são travados no Mar da China Meridional, onde a China tem questões territoriais não resolvidas com as Filipinas, e nas ilhas Senkaku, onde a disputa é com o Japão.

Para fortalecer as patrulhas em águas que considera suas, Beijing colocou em vigor recentemente uma nova lei que dá plenos poderes à Guarda Costeira para abordar, revistar e apreender embarcações. Cidadãos estrangeiros detidos nessas ações podem passar até 60 dias sob o poder das autoridades chinesas.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

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