China aproveita imunidade oferecida pelos Houthis e desloca navios para o Mar Vermelho

Chineses buscam vantagem comercial conforme as empresas ocidentais se afastam da região, sob risco de ataques a suas embarcações

Diversas empresas de navegação da China têm movido seus navios para atuar no Mar Vermelho e no Canal de Suez, aproveitando a suposta imunidade chinesa aos ataques dos rebeldes Houthis do Iêmen, hostilidade que afastou outros operadores da região. As informações são do jornal Financial Times.

Essas companhias chinesas menores têm atendido a portos como Doraleh, em Djibouti, Hodeidah, no Iêmen, e Jeddah, na Arábia Saudita. Todos esses ancoradouros tiveram grandes quedas no tráfego, já que as linhas de navegação internacional mudaram suas rotas para evitar possíveis ataques dos insurgentes iemenitas.

Uma das empresas que está redesenhando sua frota é a Transfar Shipping, com sede em Qingdao, que se descreve como “um participante em ascensão no mercado transpacífico”, oferecendo serviços entre a China e os Estados Unidos.

Navio de carga chinês: oportunismo em meio à tensão no Mar Vermelho (Foto: Clive Reid/Flickr)

A Transfar Shipping realocou duas de suas três embarcações, Zhong Gu Ji Lin e Zhong Gu Shan Dong, para operar no Oriente Médio. Este último chegou ao Mediterrâneo pelo Canal de Suez em dezembro, após várias outras empresas abandonarem a área.

Os Houthis, apoiados pelo Irã, começaram a atacar navios comerciais em novembro, sob o argumento de que eles servem a Israel e declarando apoio aos palestinos de Gaza durante no conflito entre Tel Aviv e o Hamas. O grupo se absteve de atacar navios da China e Rússia, aliados de Teerã, desde que não tenham conexões com o Estado judeu. Os EUA pediram a Beijing para pressionar o regime iraniano a conter as ações dos Houthis, sem sucesso aparente.

“Negócio da China”

Os operadores chineses estão rapidamente adentrando na região, buscando tirar proveito de sua suposta imunidade a ataques para impulsionar seus negócios, conforme explicou Cichen Shen, especialista em China da Lloyd’s List Intelligence, uma empresa de dados marítimos. Ele apontou o interesse comercial como a principal motivação por trás dessa movimentação, citando empresas como a China United Lines (CULines), que expandiram notavelmente durante as perturbações comerciais da pandemia de Covid-19, concentrando-se nas rotas China-Europa e China-EUA.

Shen acrescentou que, comercialmente, ao perceber uma lacuna na capacidade e uma demanda crescente, as empresas decidiram movimentar seus navios para a região. “O interesse comercial, muito provavelmente, é a principal razão”, analisou.

Simon Heaney, gerente sênior de pesquisa de contêineres da Drewry Shipping Consultants, empresa especializada em análises e pesquisas sobre o setor de transporte marítimo com sede em Londres, destaca que os transportadores que operam na região precisarão avaliar se estão dispostos a assumir o risco associado aos novos serviços. Ele caracteriza a abordagem chinesa como “oportunista” e “arriscada” e sugere que pode atrair proprietários de carga menos avessos ao risco.

As agressões dos Houthis, que usam drones e mísseis em seus ataques, levaram algumas companhias a mudarem suas rotas de transporte, encarecendo o frete e gerando a expectativa de que a economia global seja afetada. Pela região passa cerca de 15% do comércio global.

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