China aumenta pressão sobre Taiwan com incursões militares cada vez mais perto da ilha

Conforme se fortalece a aliança entre Taipé e Washington, jatos e navios militares adotam uma postura mais ameaçadora

Nos últimos anos, a China tem enviado frequentemente aviões e navios de guerra ao entorno de Taiwan para mostrar seu poderio militar e pressionar a ilha para que abdique de sua autonomia. Agora, conforme se aproxima a posse do novo presidente taiwanês, Lai Ching-te, as incursões têm ocorrido cada vez mais perto do território, uma ação classificada pelo governo local como “provocativa”, segundo informações da agência Reuters.

Ao vencer a eleição, Lai afirmou que Taiwan permanecerá “ao lado das democracias globais” e “apoiará a democracia em detrimento do autoritarismo”. Assim, deixou claro que não existe a perspectiva de uma aproximação em relação Beijing, menos ainda de aceitar a soberania chinesa. Desde então, o governo local vinha projetando o aumento da pressão militar por parte da China, o que tem se confirmado.

A intensificação da atividade militar chinesa também parece uma reação à aproximação entre Taiwan e os EUA, cujas Marinhas realizaram manobras militares secretas no mês passado, no Pacífico Ocidental. Não anunciaram formalmente os exercícios justamente para manter uma negação plausível ante à previsível insatisfação de Beijing, que ao tomar conhecimento contestou o “conluio militar” entre seus rivais.

Jatos J-10 da força aérea chinesa, em foto de 2010 (Foto: Wikimedia Commons)

Atualmente, os navios e aviões do Exército de Libertação Popular (ELP) da China se aproximam da zona contígua da ilha, que fica a 44 quilômetros da costa, no que o governo de Taiwan chama de “patrulhas conjuntas de prontidão para combate.” Chegam a simular ataques a embarcações estrangeiras no Estreito de Taiwan ou no Canal Bashi, que separa a ilha das Filipinas, outro país que tem recorrido aos EUA ante à disputa territorial que trava com Beijing.

“Desde o final de abril eles se tornaram cada vez mais provocativos”, disse um alto funcionário do setor de segurança de Taiwan, que pediu para ter a identidade mantida em sigilo devido à sensibilidade da questão. “Eles são como moscas nos zumbindo todos os dias”, acrescentou.

Apesar de se incomodar com a pressão, Taiwan parece já ter aprendido a conviver com ela. “Os militares nacionais não são os causadores de problemas no Estreito de Taiwan. Não nos envolveremos em nenhuma provocação e devemos deixar claro que qualquer comportamento provocativo é inútil para a paz e a estabilidade regionais”, disse Sun Li-fang, porta-voz do Ministério da Defesa.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Xi no 20º Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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