China “misteriosamente” tira de cartaz sátira de terror do Ursinho Pooh

Há anos Beijing atua para evitar piadas sobre a semelhança física entre o personagem da Disney e o presidente Xi Jinping

A exibição de ‘Winnie the Pooh: Blood and Honey’ (“O Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, em tradução literal, ainda sem título em português), filme britânico que faz uma paródia sanguinária e aterrorizante do clássico da Disney, teve estreia cancelada em dois territórios chineses, Hong Kong e Macau, nesta semana, disse a distribuidora do longa nesta terça-feira (21). As informações são da agência Reuters.

Em post no Facebook, a VII Pillars Entertainment comunicou: “É com grande pesar que anunciamos que o lançamento previsto de ‘Winnie-The-Pooh: Blood and Honey‘ em Hong Kong e Macau no dia 23 de março foi cancelado. Lamentamos a decepção e inconveniência”. Nenhuma justificativa foi dada.

Há alguns anos, o inocente personagem dono de um inseparável pote de mel causa incômodo para Beijing. Particularmente para o presidente Xi Jinping. Em 2018, o líder chinês chegou a proibir o uso da imagem do Ursinho Pooh, já que o personagem da Disney vinha sendo comparado fisicamente a ele. Não adiantou. Tanto que o urso fictício amado por gerações de crianças virou símbolo de movimentos pró-democracia mundo afora, inclusive no Brasil.

A empresa Moviematic, que havia organizado uma pré-exibição do filme para a noite desta terça, também anunciou o cancelamento em sua página nas redes sociais no início do dia. A justificativa alegada: “motivos técnicos”.

Ouvido pela reportagem, o diretor da obra, Rhys Frake-Waterfield, conta que “algo misterioso” aconteceu. “Os cinemas concordaram em exibi-lo, então todos independentemente chegaram à mesma decisão da noite para o dia. Não será uma coincidência”, disse Frake-Waterfield.

Cartaz de divulgação da versão chinesa de ‘Winnie the Pooh: Blood and Honey’ (Foto: VII Pillars Entertainment/Divulgação)

O diretor também questionou os problemas técnicos, algo que não ocorreu em nenhuma sala desde o lançamento mundial do filme.

“Eles alegam razões técnicas, mas não há nenhuma razão técnica. O filme foi exibido em mais de quatro mil telas de cinema em todo o mundo. Essas mais de 30 telas em Hong Kong são as únicas com tais problemas”, disse.

Em 2021, Hong Kong iniciou um processo para ampliar a censura imposta a filmes que são considerados uma “ameaça”, proibindo obras que “endossem, apoiem, glorifiquem, encorajem e incitem atividades que possam colocar em risco a segurança nacional”.

Aqueles que violarem o decreto e exibirem os filmes proibidos podem pegar até três anos de prisão e desembolsar uma multa de US$ 128,4 mil (cerca de R$ 665 mil). Como meio de fiscalização, as autoridades podem invadir salas de cinema e outros locais de exibição. E, como consequência, as licenças dos infratores poderão ser anuladas.

A ex-colônia britânica acena para a censura vigente na China, onde as autoridades têm o poder de criminalizar expressões artísticas tidas como “subversivas”.

O cancelamento ocorre no mesmo período em que o território semiautônomo sedia a feira de arte contemporânea Art Basel, com autoridades interessadas em promover Hong Kong como um “centro cultural vibrante”.

Xi Jinping como Urso Pooh em um cartaz de protesto em Londres. Os guarda-chuvas representam os objetos usados contra o gás lacrimogêneo em Hong Kong em 2019 (Foto: Carsten ten Brink/Flickr)

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