O movimento brasileiro Democracia Sem Fronteiras (DSF) fez novo protesto contra os Jogos de Inverno Beijing 2022. Na quarta-feira (2), um manifestante surgiu em frente ao Congresso Nacional vestido com uma fantasia do Ursinho Pooh, personagem da Disney cuja imagem é associada à do presidente chinês Xi Jinping. Desde que a comparação surgiu na China, a imagem do urso tem sido censurada por Beijing.
“O Ursinho Pooh é uma forma de criticar o presidente Xi Jinping pela censura à liberdade de expressão do povo chinês”, disse o DSF em conversa com A Referência. Segundo o grupo, o próprio líder chinês chegou a ver o personagem durante uma reunião do BRICS, em 2019. “Vários chineses e o embaixador tirarem fotos nossas”, afirmou o movimento.
Na quarta (2), o DSF também enviou uma carta aos 594 parlamentares do Congresso Nacional pedindo atenção do Brasil aos casos de violações dos direitos humanos atribuídos a Beijing na região de Xinjiang, tendo como vítima a minoria muçulmana dos uigures. Diversos países classificam as ações do governo chinês na província como genocídio.
No documento, que não foi respondido pelos políticos brasileiros, o movimento também cobrava adesão ao boicote diplomático aos Jogos de Inverno, que foi liderado pelos EUA e seguido por Reino Unido, Bélgica, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Dinamarca, Lituânia e Canadá. “É dever do Estado brasileiro assegurar a defesa aos direitos humanos”, declarou o DSF.
O grupo promete realizar novos protestos, tanto presenciais quanto através das redes sociais, durante os Jogos de Inverno. Também diz que fará uma manifestação no próximo dia 20 de fevereiro, data da cerimônia de encerramento do evento esportivo, “enfatizando a necessidade de sanções ao governo chinês pela repressão violenta aos povos uigures”.
BOICOTE DIPLOMÁTICO
Como forma de protestar contra os abusos aos direitos humanos cometidos pelo governo da China, diversos governos aderiram ao boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno Beijing 2022. Assim, não enviaram representantes estatais ao evento, mas os atletas podem competir normalmente. A medida visa somente a ferir o orgulho do país-sede, algo particularmente relevante para Beijing. Saiba quem aderiu ao boicote.
NA EUROPA
Lituânia
Envolta em uma crise diplomática com a China após a abertura de uma embaixada de fato de Taiwan em seu território, a Lituânia foi o primeiro país do mundo a anunciar um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno. O presidente Gitanas Nauseda confirmou que nem ele nem nenhum ministro do governo irá prestigiar os Jogos.
Bélgica
Conforme o primeiro-ministro belga Alexander De Croo afirmou aos parlamentares de seu país no dia 18 de dezembro, “o governo federal não enviará representação aos Jogos”.
Dinamarca
Copenhague afirmou no dia 14 de janeiro que não enviaria representação diplomática aos Jogos, devido à situação dos direitos humanos na China.
O resto da União Europeia
Vários Estados-Membros ainda não se pronunciaram, argumentando que aguardam uma tomada de decisão em comum acordo da União Europeia (UE).
Na França, o discurso é contraditório. O Ministério da Educação, Juventude e Esportes declarou à imprensa que “o esporte é um mundo em si que deve ser preservado tanto quanto possível da interferência política”, confirmando a presença de algumas autoridades. Do outro lado, o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que Paris é “a favor da posição comum” e que “esta questão deve ser tratada como a Europa”.
A Alemanha deu justificativa semelhante à maioria que não bateu o martelo sobre o assunto, argumentando que “a decisão deve ser tomada em harmonia com nossos amigos europeus”.
Apesar da declarada predileção por uma posição afinada, vários líderes duvidam da capacidade do bloco de chegar a uma decisão conjunta e até mesmo da utilidade de um boicote. Caso do primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Asselborn, que afirmou que “os Jogos Olímpicos são sempre políticos, não há Jogos Olímpicos politicamente neutros”.
Reino Unido
O premiê britânico Boris Johnson anunciou o boicote no dia 8 de dezembro. “Haverá efetivamente um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno em Beijing”, declarou ele, acrescentando que “o governo não hesita em levantar essas questões com a China, como fiz com o presidente Xi na última vez em que falei com ele”.
NAS AMÉRICAS
O primeiro país a anunciar o boicote foi os Estados Unidos, decisão que se escorou sobretudo nas acusações de genocídio que pesam contra Beijing na região de Xinjiang, devido ao tratamento dispensado pelo país à minoria étnica dos uigures.
O Canadá seguiu o exemplo. O primeiro-ministro Justin Trudeau se justificou: “Nos últimos anos, temos sido muito claros sobre nossas profundas preocupações em relação às violações dos direitos humanos“.
NA ÁSIA
O Japão não enviará uma delegação de ministros aos Jogos, mas preferiu não chamar o gesto de boicote, como explicou o secretário-chefe de gabinete Hirokazu Matsuno à imprensa: “Não usamos um termo específico para descrever como comparecemos”.
Já o premiê Fumio Kishida, que fez dos direitos humanos a principal bandeira de sua diplomacia ao criar um cargo consultivo especial para lidar com a questão, disse que espera estabelecer uma relação construtiva com os vizinhos. “O Japão acredita que é importante para a China garantir os valores universais de liberdade, respeito pelos direitos humanos básicos e o Estado de Direito, que são valores universais na comunidade internacional”, disse Matsuno.
NA OCEANIA
A Austrália foi o primeiro país a seguir o passo de Washington, anunciando o boicote em 8 de dezembro. O primeiro-ministro Scott Morrison usou o mesmo argumento dos abusos dos direitos humanos, mas citou ainda as recentes sanções impostas por Beijing a Camberra. A relação bilateral entre as nações está desgastada, e o embaixador da China em Camberra, Cheng Jingye, anunciou em outubro que deixaria o posto ao fim do mandato.
A Nova Zelândia apoiou Canberra na decisão, justificando que era “a coisa certa a fazer”. No entanto, as autoridades locais enfatizaram que “houve uma série de fatores, mas principalmente a ver com Covid-19”.