China e Filipinas admitem que situação saiu do controle e fazem acordo para evitar escalada

Manila pretende viabilizar o reabastecimento de uma base militar, processo que tem sido alvo de assédio da Guarda Costeira chinesa

O governo das Filipinas afirmou no domingo (21) que chegou a um acordo com a China para evitar novos confrontos no Mar da China Meridional, palco de uma intensa disputa territorial. O pacto tende a viabilizar as missões de reabastecimento de um posto militar mantido por Manila na região.

“Ambos os lados continuam reconhecendo a necessidade de acalmar a situação no Mar da China Meridional e administrar as diferenças por meio do diálogo e da consulta e concordam que o acordo não prejudicará as posições de cada um no Mar da China Meridional”, disse o Departamento de Relações Exteriores das Filipinas, segundo a agência Associated Press (AP).

A disputa se concentra em Second Thomas Shoal, um banco de areia reivindicado por Manila e Beijing. As Forças Armadas das Filipinas usam um navio encalhado como base militar no local, de forma a sustentar a posição do país de que controla a área, localizada dentro de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).

A China, por sua vez, diz que o banco de areia está em território sob seu controle e exige que Manila remova a embarcação. Diante da negativa dos filipinos em deixar a área, os navios da Guarda Costeira chinesa passaram a assediar as missões de reabastecimento, com as ações tornando-se cada vez mais violentas.

Lancha da Guarda Costeira das Filipinas (Foto: facebook.com/coastguardph)

As tensões na área disputada se intensificaram no ano passado, culminando em um incidente violento em 17 de junho, no qual um marinheiro filipino perdeu um dedo. Manila descreveu o incidente como um “choque intencional em alta velocidade” pela Guarda Costeira chinesa.

Face ao risco de verem a situação fora de controle, representantes diplomáticos dos dois países fizeram uma série de reuniões, que no domingo culminaram com o referido acordo.

Manila confirmou o acerto, mas não deu maiores detalhes sobre seu teor. A China igualmente relatou um “acordo provisório com as Filipinas sobre o reabastecimento humanitário de necessidades básicas”, sem se aprofundar.

Embora não tenham reivindicações territoriais na área, os EUA são parte do problema, enviando navios e aeronaves para realizar patrulhas sob o argumento de promover a navegação livre nas vias marítimas ​​internacionais e no espaço aéreo.

Segundo John C. Aquilino, almirante da Marinha dos EUA e chefe do Comando Indo-Pacífico, a razão da presença na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo.” O país tem um pacto de defesa com as Filipinas e promete intervir em favor do aliado se necessário.

Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.

Por que isso importa?

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. VietnãMalásiaBrunei e Taiwan também estão inseridos na disputa pelos ricos recursos naturais da hidrovia.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

No caso específico da relação entre Beijing e Manila, uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações chinesas sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo.

Beijing, que não reconhece a decisão, passou a construir ilhas artificiais no arquipélago, a fim de manter presença permanente por lá. Ao menos três dessas ilhas artificiais estão totalmente militarizadas, conforme apontam imagens de satélite.

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