Documento confirma plano da China de construir base militar nas Ilhas Salomão

Acordo de segurança entre os dois países colocou a Austrália em alerta, mas Beijing insiste em negar a instalação da base

Um documento secreto vazado confirma a intenção da China de estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, a cerca de dois mil quilômetros da costa da Austrália. O projeto, frequentemente desmentido por Beijing, aumenta a preocupação de Camberra com o crescente poder militar chinês e a consequente ameaça que isso representa à segurança australiana. As informações são do jornal britânico Daily Mail.

Na carta de intenções, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra nossa intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: WikiCommons)

Na carta, a companhia chinesa diz que, “antes do desenvolvimento do projeto, a China ajudaria as Ilhas Salomão, incluindo infraestrutura, educação e esportes. Nossa experiência no setor relacionado não apenas contribuirá para o sucesso do treinamento profissional nas Ilhas Salomão, mas também ajudará o país a melhorar seu nível de educação e cooperação militar com a China”.

A revelação surge pouco mais de uma semana depois de o premiê salomonense Manasseh Sogavare confirmar um acordo de segurança com a China.

Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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