Após encontro, Austrália diz que Ilhas Salomão não receberão base militar chinesa

Pacto de segurança entre a nação insular e Beijing incomoda Camberra, que saiu satisfeita de uma reunião com os salomônicos

A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Marise Payne, confirmou no sábado (7) que teve um encontro com seu homólogo nas Ilhas Salomão, Jeremiah Manele. Na pauta esteve o recém-assinado pacto de segurança entre a nação insular e a China, que tanto preocupa Camberra. As informações são do site Stars and Stripes.

Segundo Payne, o ponto mais importante da reunião foi acertar que as Ilhas Salomão não receberão uma base militar chinesa, como vinha sendo especulado desde que o pacto foi revelado. Ainda na reunião foi acertado que a Austrália, que fica a apenas dois mil quilômetros de distância da nação insular, continuará sendo o principal parceiro de segurança dos salomônicos.

“A Austrália tem sido consistente e clara ao declarar o respeito pelas decisões soberanas das Ilhas Salomão. Mas reiteramos nossas profundas preocupações com o acordo de segurança com a China, incluindo a falta de transparência“, disse o Ministério australiano em comunicado.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: Flickr)

De acordo com o ministro australiano do Comércio, Dan Tehan, os representantes dos dois governos tiveram uma “conversa muito produtiva”. “O que queremos fazer é ter certeza de que estamos apresentando um caso muito forte de por que é incrivelmente importante que não vejamos a militarização das ilhas do Pacífico“, disse ele.

O primeiro-ministro australiano Scott Morrison, por sua vez, reforçou o desfecho positivo das conversas no que tange ao temor de construção da base chinesa. “As Ilhas Salomão não estão considerando ou não apoiariam o estabelecimento de uma presença naval”, disse ele.

Entretanto, para o líder da oposição, Anthony Albanese, o estrago já estava feito. O Partido Trabalhista, do qual ele é membro, classificou o pacto China-Salomão como a maior falha da política externa australiana desde a Segunda Guerra Mundial. E prometeu mudar o cenário caso vença a eleição de 25 de maio, que pode dar a Morrison o quarto mandato de três anos à frente do país.

Presença militar

No final de março, vazou uma carta de intenções indicando que a China planejava estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em outros aliados ocidentais no Indo-Pacífico, colocando a pequena nação insular no olho do furacão de um debate tenso sobre o futuro da região.

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.

Na mesma época em que a carta veio a público, o premiê das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, confirmou que estava prestes a assinar o acordo de segurança com a China. Na ocasião, ele definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Pouco depois do anúncio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o acordo já foi assinado, de acordo com o jornal britânico Guardian. Ele não especificou quando e onde ocorreu a assinatura, que também foi confirmada pela embaixada chinesa em Honiara.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China.

Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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