China exige medidas do Irã contra ataques dos rebeldes Houthis no Mar Vermelho

Beijing enfatizou que qualquer prejuízo a seus interesses poderia afetar os negócios com Teerã, de quem é o maior parceiro comercial

Beijing pediu a autoridades iranianas que controlem os ataques dos Houthis no Mar Vermelho, alertando sobre potenciais impactos que a continuidade das ações dos rebeldes iemenitas podem causar nas relações comerciais entre China e Irã. As discussões ocorreram em encontros recentes na capital chinesa e em Teerã, abordando ataques a navios e comércio bilateral, mas sem detalhes específicos divulgados, segundo informações da agência Reuters.

Nesta sexta-feira (26), durante uma coletiva de imprensa em Beijing, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, se disse preocupado com o aumento das tensões no Mar Vermelho. Ele fez um apelo à cessação dos ataques e assédios contra navios civis, instando todas as partes envolvidas a “interromperem as ações que contribuem para a escalada das tensões na região”, repercutiu a revista Times.

Um oficial iraniano, em conversa anônima com a reportagem, revelou que a China expressou sua preocupação com a situação, indicando que qualquer prejuízo aos seus interesses poderia afetar os negócios com Teerã. A orientação chinesa seria pedir aos Houthis que demonstrem “contenção”, disse a fonte.

Em outubro de 2023, um destróier da Marinha dos EUA conseguiu neutralizar com sucesso uma ameaça composta por mísseis Houthi e drones no Mar Vermelho (Foto: WikiCommons)

Usando drones e mísseis em seus ataques, os Houthis, apoiados pelo Irã, começaram a atacar navios comerciais em novembro, sob o argumento de que eles servem a Israel e declarando apoio aos palestinos de Gaza durante no conflito entre Tel Aviv e o Hamas. 

Como resultado das ofensivas, o frete ficou mais caro, gerando a expectativa de que a economia global seja afetada. Pela região passa cerca de 15% do comércio global. O grupo iemenita se absteve de atacar navios da China e Rússia, aliados de Teerã, desde que não tenham conexões com o Estado judeu. Os EUA já haviam pedido a Beijing para pressionar o regime iraniano a conter as ações dos insurgentes.

As autoridades chinesas, não detalharam ameaças ou comentários específicos sobre como a relação comercial entre o gigante asiático e a República Islâmica poderia ser afetada pelos ataques dos Houthis, informaram as fontes iranianas.

Apesar de ser o principal parceiro comercial do Irã, a dinâmica comercial é desigual, com refinarias chinesas adquirindo mais de 90% das exportações de petróleo bruto iraniano no ano passado, aproveitando enormes descontos devido às sanções dos EUA que afastaram outros compradores.

A China depende do petróleo iraniano em apenas 10% de suas importações totais de petróleo bruto, tendo uma diversidade de fornecedores alternativos para compensar possíveis déficits.

Impaciência

Segundo informações iranianas, Beijing comunicou claramente a Teerã seu desapontamento potencial caso algum navio vinculado à China fosse atacado ou se os interesses chineses fossem prejudicados. Apesar da relevância da China para o Irã, este último mantém influência por meio de proxies em diversas regiões, como Gaza, Líbano, Síria, Iraque e apoia os Houthis no Iêmen. As alianças regionais e prioridades estratégicas do Irã desempenham um papel fundamental em suas tomadas de decisão, conforme sublinhado por fontes em Teerã.

Sinais recentes indicam que a China está perdendo a paciência com a situação. No dia 10 de janeiro, o representante chinês na ONU (Organização das Nações Unidas), Zhang Jun, fez um apelo veemente pelo fim dos ataques.

O Irã considera os Houthis, aliados ao Hamas em Gaza e ao Hezbollah no Líbano, como parte do seu “eixo de resistência”.

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