China intervém para salvar gigante do setor imobiliário e expõe crise crescente

Prejuízos bilionários e queda na confiança ameaçam o futuro do mercado imobiliário chinês, com possíveis falências no horizonte

O governo da China deu um passo inédito ao intervir diretamente na gestão da China Vanke Co., uma das maiores incorporadoras do país, sinalizando que, ao menos por enquanto, a empresa é considerada grande demais para falir. A decisão veio após o alerta de um prejuízo anual recorde de US$ 6,2 bilhões, o que levou autoridades de Shenzhen, sede da companhia, a assumir o controle operacional para garantir novos financiamentos. As informações são da rede Bloomberg.

O resgate da Vanke trouxe alívio momentâneo aos mercados, mas também expôs a gravidade da crise imobiliária que assola a China há quatro anos. O colapso da confiança dos compradores de imóveis, combinado com uma dívida de quase US$ 160 bilhões em títulos em situação de inadimplência, faz com que o setor se torne um dos principais riscos para a segunda maior economia do mundo.

Apesar das diversas rodadas de estímulo promovidas pelo governo de Xi Jinping, as vendas de imóveis não se recuperaram de forma sustentável. Bancos chineses reduziram drasticamente o crédito para projetos fora dos grandes centros urbanos, enquanto investidores internacionais perdem a paciência com reestruturações de dívidas que fracassam e um número crescente de incorporadoras enfrenta processos de liquidação.

A crise, que começou com o colapso da China Evergrande em 2021, agora se espalha para Hong Kong. Empresas como a New World Development, tradicional no setor imobiliário local, estão correndo para vender ativos e hipotecar propriedades icônicas à medida que os prejuízos aumentam.

Vanke, uma das maiores incorporadoras da China (Foto: FMT/WikiCommons)

O impacto é sentido também no mercado de trabalho e no consumo interno, agravando o desaquecimento da economia chinesa. “As medidas do governo são encorajadoras, mas insuficientes e lentas demais”, disse Zhu Ning, pesquisador da Universidade de Yale. “O que preocupa é que as expectativas continuam pessimistas.”

Embora o Partido Comunista Chinês (PCC) tenha prometido em setembro estabilizar o setor, as iniciativas, como cortes nas taxas de juros e flexibilização de regras para aquisição de imóveis, não conseguiram reverter a tendência de queda. O preço médio das residências caiu cerca de 30% em relação ao pico de 2021, e a participação do setor imobiliário no PIB (produto interno bruto) diminuiu de 24% para 19%.

A intervenção na Vanke inclui um empréstimo de até 2,8 bilhões de yuans (R$ 2,2 bilhões) da Shenzhen Metro Group, maior acionista da incorporadora, marcando a primeira vez que o Estado assume controle direto de uma empresa do setor. No entanto, mesmo com esse apoio, a Vanke enfrenta o desafio de reduzir uma dívida de 100 bilhões de yuans (R$ 78,9 bilhões) até 2025.

Falências à vista

Enquanto isso, a desconfiança se espalha para outras empresas estatais do ramo imobiliário, como a Poly Developments e a China Overseas Land & Investment, aumentando o temor de que novas falências estejam a caminho. “Se a Vanke colapsar, todos vão questionar a política de estabilização do mercado imobiliário definida por Beijing”, alertou Xu Liqiang, da Shanghai Silver Leaf Investment.

O ciclo vicioso de queda nas vendas, restrição de crédito e aumento da inadimplência está longe de ser superado. O apoio financeiro do governo, embora significativo, não tem sido suficiente para restaurar a confiança dos compradores de imóveis e investidores.

Com uma previsão de crescimento econômico de 4,5% para este ano, o menor nível em décadas, a China enfrenta o desafio de conciliar a necessidade de reformas estruturais com medidas urgentes para evitar um colapso ainda maior no setor imobiliário.

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