A relação entre a China e a Coreia do Norte sempre foi marcada por uma complexa mistura de alianças políticas e interesses estratégicos. Nos últimos anos, no entanto, o comportamento imprevisível do regime norte-coreano e o avanço de seu programa nuclear têm gerado preocupação crescente em Beijing, que se vê agora na posição desconfortável de equilibrar seu apoio histórico a Pyongyang com o temor de que suas provocações desestabilizem a região. A avaliação consta de um artigo publicado pela revista Foreign Affairs e assinado pelos analistas Lee Hee-ok e Sungmin Cho, especializados em questões chinesas.
Enquanto a China sempre defendeu a paz e a estabilidade na Península Coreana, a escalada das tensões promovida por Kim Jong-un, com testes de mísseis e ameaças constantes, coloca em risco esse objetivo. Beijing teme que uma crise severa na Coreia do Norte desencadeie uma resposta militar dos Estados Unidos ou da Coreia do Sul, levando a um conflito que afetaria diretamente suas fronteiras.
Outro ponto de preocupação para a China é a possibilidade de um colapso econômico na Coreia do Norte. Se isso ocorrer, é provável que um grande número de refugiados busque asilo em território chinês, o que representaria um desafio humanitário e econômico para Beijing. Além disso, a instabilidade política poderia abrir espaço para a influência de potências ocidentais nas proximidades da fronteira chinesa.
Por outro lado, o crescente poderio nuclear norte-coreano enfraquece a posição estratégica da China na Ásia. Pyongyang já demonstrou que não se sente obrigada a seguir as orientações de Beijing e, ao fortalecer suas capacidades militares, aumenta sua independência e diminui a influência chinesa sobre suas decisões. Esse cenário preocupa o regime chinês, que vê o vizinho mais como uma fonte de riscos que de estabilidade.
A China também se preocupa com a possibilidade de um alinhamento entre a Coreia do Norte e a Rússia, fortalecendo o poder de Pyongyang no cenário internacional. Esse movimento dificultaria ainda mais a capacidade de Beijing de mediar e moderar o comportamento norte-coreano. Para a China, um regime norte-coreano autônomo e fortalecido militarmente representa um risco de isolamento regional.
Diante desse cenário, a posição da China em relação à Coreia do Norte torna-se cada vez mais complexa. Beijing precisa ponderar como lidar com as ameaças crescentes sem comprometer a estabilidade em sua própria fronteira. Em um contexto geopolítico tenso, o dilema chinês destaca os limites do seu poder de influência e os desafios de manter a ordem em uma região volátil.