Rússia ajudaria a China em eventual invasão de Taiwan, avalia chefe de inteligência dos EUA

Segundo Avril Haines, Diretora de Inteligência Nacional, os dois aliados têm trabalhado mais próximos em questões militares

A aliança entre China e Rússia vem se fortalecendo cada vez mais, inclusive no âmbito militar, e os dois países provavelmente atuariam juntos em caso de um conflito envolvendo Taiwan. A avaliação é da Diretora de Inteligência Nacional dos EUA, Avril Haines, que falou ao Senado norte-americano na semana passada.

“Vemos a China e a Rússia, pela primeira vez, se exercitando juntas em relação a Taiwan e reconhecendo que este é um lugar onde a China definitivamente quer que a Rússia trabalhe com eles, e não vemos razão para que não o façam”, disse ela, quando questionada pelo senador Mike Rounds, conforme relato do jornal Taiwan News.

Lado a lado: o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping (Foto: WikiCommons)

O tenente-general Jeffrey Kruse, chefe da Agência de Inteligência de Defesa, também falou ao Senado e se manifestou no mesmo sentido, de acordo com a rede Bloomberg. O oficial disse que o Departamento de Defesa dos EUA está “ainda mais preocupado” diante do fortalecimento da parceira entre os rivais, que “certamente cooperariam” militarmente se necessário.

A aliança entre Moscou e Beijing se fortaleceu durante a guerra da Ucrânia, com frequentes acusações contra empresas chinesas de que fornecem equipamentos usados pelas Forças Armadas da Rússia. A questão de Taiwan, porém, gera preocupação maior entre os norte-americanos, devido ao risco de eles próprios terem que se envolver em um eventual conflito devido à aliança com a ilha autogovernada.

Segundo Haines, a parceria russo-chinesa em caso de um conflito em torno da ilha “certamente é uma possibilidade”, vez que eles têm cooperado “em todos os setores da sociedade: político, econômico, militar, tecnológico e assim por diante”. Ela acrescentou: “Acho que a questão de quão provável é isso difere dependendo do cenário.”

Na semana passada, a questão de Taiwan foi debatida no Senado por Daniel Kritenbrink, secretário de Estado adjunto dos EUA para assuntos da Ásia Oriental e do Pacífico. E, segundo ele, o risco de conflito exige cautela de Washington, que oficialmente reconhece a ilha como território chinês, parte do princípio “Uma Só China” estabelecido por Beijing.

Na ocasião, Kritenbrink defendeu a manutenção da “paz e estabilidade” no Estreito de Taiwan, dizendo que para isso é crucial que os EUA mantenham sua posição atual e não reconheçam a independência da ilha. “Acreditamos que mudar esse quadro, mudar os elementos centrais da política dos EUA de ‘Uma Só China’, seria imprudente. E, em vez de contribuir para a estabilidade, acreditamos que a prejudicaria”, disse.

Tensão crescente

A proximidade entre Washington e a ilha levou Beijing a endurecer a retórica nos últimos anos. A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA Nancy Pelosi a Taiwan em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para lá em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing.

Em resposta, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes. O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro de 2022 “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Xi no 20º Congresso do PCC. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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