As atuais medidas adotadas pelos EUA em defesa de Taiwan são insuficientes para proteger a ilha contra uma eventual agressão da China, e mesmo as Forças Armadas norte-americanas podem não estar prontas para um confronto direto com o Exército de Libertação Popular (ELP). Esta é a opinião de Mike Gallagher, presidente do Comitê de China na Câmara norte-americana, que manifestou sua opinião em um documento enviado ao governo Biden cujo conteúdo foi acessado pela rede Fox News.
Em carta enviada à vice-secretária de Defesa, Kathleen Hicks, o político republicano instou Washington a fornecer a Taiwan um “arsenal de dissuasão” capaz de desencorajar uma agressão chinesa. Beijing considera a ilha parte de seu território e ameaça usar a força contra a reivindicação de independência dos taiwaneses, que têm no governo norte-americano o mais importante parceiro.
“Em dezembro de 1940, enquanto ainda estávamos em paz, o presidente Franklin D. Roosevelt fez um famoso apelo aos Estados Unidos para serem o ‘grande arsenal da democracia’”, escreve Gallagher na carta. “Hoje, os Estados Unidos precisam reconstruir um tipo diferente de arsenal: um arsenal de dissuasão.”
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitar a ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno do território vizinho, com tiros reais e testes de mísseis.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.
Gallagher parece pensar como Blinken e afirmou que o presidente chinês Xi Jinping “ordenou que os militares chineses estejam prontos para invadir Taiwan até 2027.” Tal cenário, diz ele, criaria problemas para os EUA, que atualmente precisam apoiar também a Ucrânia, em guerra com a Rússia, e Israel contra o Hamas. O problema, segundo o republicano, é que a indústria bélica norte-americana foi pega de surpresa pelos conflitos concomitantes e não tem estrutura para suportar a demanda por munição.
A melhor alternativa, na visão do republicano, é evitar um conflito direto com a China, possibilidade real em caso de agressão à ilha. Para tanto, os EUA deveriam “refazer rapidamente um arsenal de dissuasão que possa armar Taiwan, bem como as nossas próprias forças, para nos permitir prevalecer em qualquer conflito no Indo-Pacífico.”
Embora fale em dissuasão, Gallagher toma a guerra como possível. Mas faz uma projeção pessimista, acrescentando não haver garantias de que o conflito “seria limitado a semanas ou mesmo meses.”
“A possibilidade de termos de lutar durante um período prolongado sem os meios mais eficazes do nosso arsenal é profundamente alarmante”, escreve ele na carta. “Além disso, atrasos significativos nas entregas de mísseis críticos a Taiwan, incluindo mísseis antinavio Harpoon, não deixam claro se Taiwan terá armas suficientes para se defender e repelir uma invasão chinesa.”